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 Reflexão e Crítica

 Este página é um desdobramento do Grupo WSF-2008 Contribuição à Reflexão Sociológica,
que visa amparar e promover a elaboração, publicação e distribuição de artigos
sociológicos interessando à Crítica da Cultura. < http://wsf2008.net/es/node/5434 >

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LEITURA DA TEORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

DESDE O PONTO DE VISTA DA

SOCIOLOGIA DO CONHECIMENTO [1]

 

(as tecnologias da informação, as sociedades e

a perspectivação sociológica do conhecimento)

 

Por

Jacob (J.) Lumier image-gotica-reduzida2.jpg

 

 

 

ABSTRACT

 

Para fazer frente aos novos temas e novos desafios à compreensão/ explicação colocados pela cultura do compartilhamento, e malgrado a orientação concorrente da filosofia abstrata da mente orgânica, a nova sociologia do conhecimento oferece à Teoria de Comunicação Social e aos estudos da cognição a noção operativa diferencial do sistema cognitivo que, acentuando o concreto e a assimilação das influências do ambiente de conjunto, libera o conhecimento do seu suposto passado introspectivo e ultrapassa as metodologias introvertidas. Portanto, o sistema cognitivo do qual nos fala a nova sociologia do conhecimento revela-se um instrumento de análise e interpretação capaz de aportar maior precisão ao uso da noção complexa do conhecimento na reflexão da sociedade de redes de informação e, por esta via, propiciar uma recolocação mais qualitativa no âmbito da morfologia social para os debates do tema e do problema das relações entre as tecnologias da informação e as sociedades.

 

 

 

Palavras Chave:

Teoria de Comunicação, conhecimento, sistemas cognitivos, realidade social, correlações funcionais, tecnologia, utilitarismo, Internet, cultura do compartilhamento.

 


 

 

Leitura da teoria de comunicação social desde o ponto de vista da

Sociologia do conhecimento (as tecnologias da informação, as sociedades e

a perspectivação sociológica do conhecimento)

Por

Jacob (J.) Lumier

 

 

RESUMO

(proposições em destaque no texto conforme a ordem da exposição)

 

§               //A compreensão dos temas e problemas da reflexão da sociedade de redes de informação deve evitar a redução das relações entre as tecnologias da informação e as sociedades, em favor de uma compreensão sociológica aprofundada da morfologia. //

§               //A teoria de comunicação social é voltada para a indústria cultural e reflete o processo de formação da sociedade de informação, como consagração do princípio da virtualidade real. //

§               //As relações entre tecnologias e sociedades dão lugar a um sistema combinando tres ámbitos o aspectos: el científico-técnico, el organizacional y el cultural. //

§               //A sociedade de informação em seu caldo de cultivo afirma uma ideologia ou um discurso como expressão de seu vínculo estrutural e recíproco ao desenvolvimento das tecnologias da informação. //

§               //A recolocação do tema e do problema das relações entre tecnologias e sociedades, acentuando o aspecto da variedade nessas relações, passa pela discussão sobre a Teoria de Comunicação Social em face do pluralismo cultural e lingüístico. //

§               //No estudo das alterações nas relações entre tecnologias da informação e sociedades os números levam em conta o mercado interno e as relações internacionais. //

§               //Tomadas em conjunto, as tecnologias da informação e comunicação e a dinâmica da Internet, tanto pela introdução do suporte virtual quanto pela expansão das redes “P2P”, tiveram várias conseqüências levando a quebrar o elo em torno da função de fazer o conhecimento/informação/mensagem chegar ao cidadão/consumidor. //

§               //A Teoria de Comunicação Social toma como seu modelo principal de análise e interpretação o fato de que (a) - o compartilhamento do conhecimento tem sido a base da inovação e da produção de novos conhecimentos e que (b) - consolida-se cada vez mais uma cultura do compartilhamento baseada principalmente nas comunidades de interesses e, cada vez mais, na troca entre particulares – nas redes do tipo P2P.//

§               //Há, nessa atividade de selecionar e classificar as informações recebidas das redes com o fim de fabricar, confeccionar ou elaborar produtos que retornem as informações para as redes, revertendo em benefício do desenvolvimento sustentado das próprias tecnologias da informação, uma configuração particular do conhecimento técnico com acréscimo de valor no sistema cognitivo. //

§               // Ao conceituar a atividade classificadora em redes como conhecimento-insumo, a Teoria de Comunicação Social incorre em uma projeção pelo utilitarismo da potenciação do conhecimento técnico, deslocando-o para o domínio dos símbolos sociais. //

§               //O utilitarismo moderno favorece a Teoria de Comunicação Social na medida em que constitui uma filosofia pública preconizando que “as ações publicas só possam ser julgadas pelas conseqüências benéficas que elas possam ter” para a vida em comum. //

§               //A atividade que se desenrola em prolongamento da ferramenta tecnológica incorpora um incremento estranho aos juízos cognitivos. //

§               //A sociologia do conhecimento como disciplina das Ciências Humanas já mostrou que a capacidade cognitiva de encontrar correlações e tirar inferências gera-se no espaço da sociabilidade, no qual está mergulhado o mundo exterior da percepção, espaço que já é apreendido nos Nós, forma esta que, por sua vez constitui segundo o ensinamento de G.Gurvitch (1894-1965), o primeiro foco da experiência humana (ver: Gurvitch, 1962). //

§               //No centro da sociologia do conhecimento estão, pois os estudos das estruturas sociais como quadros sociais, já que nas estruturas sociais o saber está em correlações funcionais e, assim, como sistema cognitivo, desempenha um papel de argamassa, juntamente com as demais obras de civilização – sendo a este “papel cimentador” das mesmas que se refere a noção de controles ou regulamentações sociais.//

§               //O caráter da extensão na morfologia da sociedade encontra-se enroscado ao conhecimento perceptivo do mundo exterior, constatação esta que, ao invés de suprimir a objetividade deste “mundo dos produtos” (incluindo desde os insumos da produção econômica, os recursos, até as tecnologias) que é a morfologia ou base morfológica da consciência coletiva, faz por acentuar que a morfologia está penetrada de significações propriamente humanas que não podem passar despercebidas numa mirada exclusivamente quantitativa, mas devem ser alcançadas e aclaradas pela sociologia.//

 

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Leitura da teoria de comunicação social desde o ponto de vista da

Sociologia do conhecimento (as tecnologias da informação, as sociedades e

a perspectivação sociológica do conhecimento)

Por

Jacob (J.) Lumier

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

     O estudioso de filosofia conhece bem a fórmula muito citada para lembrar Spinoza de que não se deve rir nem chorar diante das situações na realidade. Diz-se que o filósofo pretendeu com este apólogo pôr em relevo a liberdade intelectual, embora tenha igualmente revelado certo afeto pelos valores da racionalidade na sua escala formalista dos níveis do conhecimento, tão bem analisada e mais ainda interpretada pelo insuperável León Brunschvicg[2] .

Por supérfluo que pareça, a lembrança de que o avanço do conhecimento positivo liga-se a uma atitude livre de conceitos gerais ou sem pré-concepções é uma consideração oportuna quando se tece algum comentário sobre a reflexão da sociedade de redes de informação.

Isso porque não será difícil ao leitor atento sugestionar de si para consigo uma coloração vistosa, como se contemplasse uma corrente de um pensamento satisfeito em espelhar-se no esplendor dos recursos inovadores e desse modo sentir-se estimulado a exercitar-se no prolongamento dos instrumentos das tecnologias da informação e da comunicação.

 Todavia, um espanto admirado talvez pudesse afetar o nosso leitor de mirada curiosa, caso se perguntasse pela corrente contrária, a do pensamento insatisfeito.

Veria que para alcançá-la ou somente buscá-la, já se encontraria em meio aos temas da reflexão da sociedade de redes de informação. Não somente temas voltados para configurar a inovação, como os que tratam da descrição e conceituação do ciberespaço, mas, de uma maneira geral, em meio às relações entre as tecnologias da informação e as sociedades.

É que, em fato, há frequentemente algo assim como uma predisposição para internalizar o sentimento do avanço e da inovação que à primeira vista parece empolgar o pensamento iluminando a sociedade de redes de informação.

Nota-se sobretudo a preocupação em enfatizar o benefício das tecnologias da informação para o maior número. Não que haja algo de errado com esse tipo de postura pública, mas que, se lembrarmos a máxima do referido Spinoza, iremos constatar que o filósofo não está sendo ouvido.

É claro!” - diria um interlocutor satisfeito: “nem houvera porquê ouvi-lo se o assunto é instrumental e não um fim em si mesmo”.  Mas aí, nesse caso, não há reflexão, não há meios de chegar a um pensamento de compreensão e explicação, e a sociedade de informação não teria outra realidade que a dos grupos de interesse e das estratégias de investimento secundando as instâncias planejadoras, restando equívoca, deslocada, sua pretensão cultural como imagem do utilitário.

Mas nem tudo é um mar de rosas e a voz do filósofo que fez da substância metafísica uma via para o caminhar do homem moderno como subjetividade, se faria ressoar naquelas outras miradas mais distanciadas, a enfocarem a sociedade de informação desde suas fronteiras, sem rir nem chorar, no caso, sem redução das relações entre as tecnologias da informação e as sociedades.

 Ao contrário de qualquer simplificação tomando o mundo dos produtos como totalmente inerte, não-humano, há que reencontrar aquelas relações em uma morfologia social da qual se apreende o poder de atração, assim aberta às significações humanas.

Por nossa parte, se é fato que sem comunicação social não há cultura moderna, como é sabido, será, pois de bom alvitre começar nossa aproximação acolhendo as indagações a respeito disso, atentos à metodologia do pensar teorético neste domínio e às brechas suscitantes para a sociologia do conhecimento.

 

 

 

 


 

 


 

 

 

 

Primeira Parte:

 Atualidade da Teoria de Comunicação Social

(Na Trilha da Cultura do Compartilhamento)

 

 

 

 

 

 

 

 

        Na medida em que se trata da apreensão do ciberespaço como redes de redes, a Teoria de Comunicação Social se insere no contexto da cultura da tecnologia como fenômeno social global levando ao surgimento da sociedade de informação e por esta via consagrando o princípio de virtualidade real, de que nos falou Manuel Castells (Castells, 2003) [3].

A Teoria de Comunicação Social dá expressão ou reflete esse processo de formação, e o faz voltada para a indústria cultural (esta é mais antiga, vem dos anos vinte) que é um dos setores dessa cultura da tecnologia (em inelutável expansão inelutável desde os anos cinqüenta).

A sociedade de informação é uma unidade coletiva surgida com o desenvolvimento tecnológico, cuja obra a realizar é o desenvolvimento das tecnologias da informação, para o que, conforme assinalou Vicente Ortega em artigo de TELOS em 2004, articula os três âmbitos mencionados por Arnold Pacey no livro The Culture of Technology, publicado en 1983.

Vale dizer, as relações entre as tecnologias e as sociedades dão lugar a um sistema combinando tres ámbitos o aspectos: el científico-técnico, el organizacional y el cultural.

El primero aspecto incluye el conocimiento científico-técnico experimental, los procedimientos y habilidades técnicas, las fuentes de energía, los recursos naturales, las máquinas, aparatos y herramientas, etc.

El segundo ámbito engloba los conocimientos y las actividades económicas y empresariales, sindicales y profesionales, las administraciones públicas y organizaciones de consumidores y otros aspectos parecidos propios del mundo de la economía, los servicios y la gestión.

Por último, el ámbito cultural comprende aspectos más generales e indefinidos como los fines, los valores, las creencias, las costumbres, las ideas de creatividad, riesgo, progreso, etc., que constituyen el caldo de cultivo predominante en una determinada sociedad.

Do ponto de vista assim localizado, a sociedade de informação aparece como instância do “desarrollo tecnológico sostenible de las tecnologías de la Información”, sendo representada em seus fins ideais (1)-como foco de “nuevos tipos de información y nuevos servicios que contribuyen a un cambio de hábitos culturales que tienden a modificar los comportamientos sociales”; (2)-como un “estadio del desarrollo de la sociedad caracterizado por la capacidad de sus miembros –individuos, organizaciones e instituciones– para crear, procesar, comunicar, obtener y compartir libremente cualquier tipo de información, en cualquier lugar y en cualquier momento”; (3)- a que se conjugam, como necessárias, “las infraestructuras, sistemas y servicios de telecomunicaciones e informática, es decir las tecnologías propriamente ditas[4].

Portanto, a sociedade de informação em seu caldo de cultivo, afirma uma ideologia ou um discurso como expressão de seu vínculo estrutural e recíproco ao desenvolvimento das tecnologias da informação.

 É desse “caldo de cultivo” que, como veremos adiante, participa a Teoria de Comunicação Social na medida em que, por sua vez, se afirma dentro da sociedade de informação e não vê as sociedades além desta, como o pluralismo cultural e lingüístico, por exemplo, que escapa ao seu domínio intelectual.

A sociedade de redes de informação é um aprofundamento na cultura da tecnologia (consagra como foi dito o princípio de virtualidade real).  Todavia é preciso levar em conta que a apreensão do ciberespaço, base dessa cultura da tecnologia, não se dá indiferentemente aos conteúdos sociais comunicados.

Nem é indiferente aos temas percebidos (como as próprias relações entre tecnologias e sociedades), às línguas ou às significações nelas e por elas apreendidas. 

Na verdade da experiência humana as criações e os produtos segregados no ciberespaço como virtualidades reais desdobram-se desses conteúdos, desses temas percebidos, ainda que se possa observar o surgimento da atividade de “conteudista de software” invertendo aparentemente a ordem das funções, mas consagrando a prioridade e a anterioridade dos conteúdos comunicativos.

A Teoria de Comunicação Social, como discurso da cultura da tecnologia voltado para apreciar as situações surgidas nas redes de redes, trata seu objeto (a mensagem, o mediu, a mídia) sem considerar as línguas em que as informações são comunicadas em texto, nem a determinação que a particularidade das línguas impõe aos conteúdos ou constitui os conteúdos.

Dá por suposto que a língua dos conteúdos informativos é tão formal ou indiferente quanto os algoritmos da linguagem tecnológica ou digital que constitui o meio (software, por ex.). Supõe um monismo da língua nas informações.

 Neste sentido, a recolocação do tema e do problema das relações entre tecnologias e sociedades, acentuando o aspecto da variedade nessas relações, passa pela discussão sobre a Teoria de Comunicação Social em face do pluralismo cultural e lingüístico.

Note-se que do ponto de vista do pluralismo há uma relativa autonomia dos conteúdos. Vale dizer, é legítimo tratar ou classificar as informações desde o aspecto temático e distinguir assim, por diferença da sociedade da informação à qual estão ligadas como as suas regiões diferenciais, as sociedades do saber, nas quais os conteúdos informativos são realçados nas classificações variadas, em face dos critérios exclusivamente tecnológicos ou das situações econômicas típicas resultantes das dinâmicas das redes de redes na Internet. 

 

 

O pluralismo cultural e lingüístico torna possível perceber ou dar expressão às relações entre tecnologias e sociedades com anterioridade ao sistema da cultura da tecnologia (os três âmbitos mencionados), isto é, como sendo um conjunto de relações que não se reduz ao nível do que é produzido nesse sistema, mas introduz um princípio de variabilidade no mesmo. Tal o quadro de referência que permite uma apreciação crítica das premissas na Teoria de Comunicação Social.

Deste ponto de vista, podemos constatar que o estudo das relações entre tecnologias e sociedades sendo feito com atenção ao pluralismo leva a assinalar não só várias ambigüidades no sistema da cultura tecnológica, mas, por esta via, permite realçar certas alterações na linha do desenvolvimento das tecnologias da informação.

 Lembre-se a este respeito que: “la posición de fuerza de los medios de comunicación en el comercio externo está relacionada, por un lado, con la buena comercialización de sus productos (cine, radiotelevisión, vídeo) y, por otro, con la capacidad que tienen éstos para generar audiencias sobre la base de una relación calidad/precio competitiva. Pero en ambos casos dependen en su mayor parte de las características del mercado interno”.

Como se sabe, “El año 2001 estuvo marcado por un neto decrecimiento del mercado mediático tras diez años de continua expansión. La causa principal fue la reducción de un 6,2 por ciento de la inversión publicitaria La crisis alcanzó al uso instrumental de los productos de la industria del copyright  pero no a su mercado de consumo, que en su mayor parte continuó creciendo. A pesar de la fuerte caída de las inversiones publicitarias –que no se había registrado de forma tan pronunciada desde la II Guerra Mundial- el gasto de los consumidores en medios de comunicación continuó creciendo, registrando un aumento del 6,5 por ciento con respecto al año precedente” (cf. Richeri, 2004).

E Richeri prossegue: “La importancia estratégica de las industrias del copyright  no solo se debe a que se trata de uno de los segmentos más dinámicos de la economía estadounidense, o al hecho de que  hoy parece desempeñar, en el desarrollo económico general, el mismo rol que la industria pesada en épocas pasadas.  Su importancia se debe sobre todo al hecho de que esta indústria ha alcanzado un nivel de expansión internacional muy elevado, y al hecho de que sus productos –mucho más que cualquier otra clase de producto– se caracterizan por su doble valor económico y socio-cultural”(ib.ibidem). E este autor mencionado nos lembra ainda que a relevância dessa última característica “es evidente si se tienen en cuenta las iniciativas que la Unión Europea está tomando para reforzar la competitividad de sus productos y para elevar las barreras de entrada a los productos norteamericanos” (ib.ibidem). 

Constata-se a vulnerabilidade da indústria do copyright: como consecuencia del uso de Internet para intercambiar y distribuir gratuitamente ‘entre pares’ (peer to peer) nas redes P2P, atingindo não só aos CD musicais, mas, “con el desarrollo de las redes de banda ancha, a otros sectores como el de la industria cinematográfica” (ib.ibidem). 

Desta forma, chega-se à conclusão de que “estas nuevas formas de liberación espontánea de los flujos internacionales de “información”, como consecuencia del desarrollo de las redes y servicios de telecomunicaciones, plantea nuevos problemas al menos sobre dos frentes: el de las empresas que poseen y gestionan el copyright y ven amenazados sus ingresos; y el no menos importante relacionado con el incremento de los desequilibrios en los intercambios internacionales, los cuales se profundizarán a través de las nuevas redes y serán difíciles de evaluar y regular, como lo viene intentando la Unión Europea desde hace tiempo”(ib.ibidem).

 

 

De fato, é neste ponto que a Teoria de Comunicação Social encontra o tema que lhe dá projeção como teoria conjetural. O estudo das redes de redes introduz na sociedade de informação um quadro diferencial que exige uma apreciação mais ou menos profunda para ser compreendido.

Aos olhos da Teoria de Comunicação Social os programas peer-to-peer (P2P), como eMule, Gnutella, eDonkey, BitTorrent e outros tantos permitiram que, de conteúdos compartilhados nos servidores, a rede se estendesse desde a base dos 340 milhões de computadores ligados à rede (junho de 2005) para os computadores pessoais dos usuários da rede, ou seja, estendendo o intercâmbio de conteúdo para outras 910 a 940 milhões de máquinas em uso (eTForecast, 2005). Trata-se de uma quantidade gigantesca de informação que flui de forma descentralizada e frenética pela rede (apud Machado, 2005). 

No estudo dessa situação da indústria cultural na sociedade de informação e por efeito desta, a Teoria de Comunicação Social não só nos oferece:

(a) - uma descrição da mentalidade no círculo social dos administradores e usuários das redes de redes, à qual chama “cultura do compartilhamento”, mas, por esta via, sem esclarecer sobre as competências próprias às tecnologias, nos deixa ver:

 (b) - uma noção do conhecimento como conteúdo impresso ou gravado e comunicado nos produtos da indústria cultural (o que nos anos sessenta e setenta chamava-se “mensagem” - o meio é a mensagem), bastante submetida ao ponto de vista da tecnologia da informação e ao aspecto quantitativo;

(c) – além disso, a Teoria de Comunicação Social põe em relevo as mudanças verificadas no complexo sistema de produção, distribuição, logística, planejamento que envolvia as relações entre o produtor / autor e o consumidor na indústria cultural.

Quer dizer: tomadas em conjunto, as tecnologias da informação e comunicação e a dinâmica da Internet, tanto pela introdução do suporte virtual quanto pela expansão das redes “P2P”, tiveram várias conseqüências levando a quebrar o elo em torno da função de fazer o conhecimento / informação / mensagem chegar ao cidadão / consumidor, que, muitas vezes, era uma função assumida pelas editoras e gravadoras com suporte convencional.

Uma dessas conseqüências foi de colocar em xeque a propriedade do conhecimento, pois “qualquer obra humana que possa ser convertida em bits pode ser reproduzida indeterminadas vezes e facilmente distribuída”; em face dessa qualidade, inverteu-se o procedimento da comercialização passando-se a falar mais em “vender o suporte do que a informação”, tendendo-se a “pagar apenas pelos átomos”; além disso, observou-se o surgimento, nesse âmbito digital, de uma comunhão de bens culturais, técnicos e científicos considerados ‘públicos’ (...) em que “o único constrangimento para a reprodução, distribuição deve ser o controle do autor sobre a integridade de seu trabalho e o direito de sua propriedade intelectual e devida citação” (ibidem Machado, 2005).

Deste modo afirma-se a exigência em rever os papéis econômicos, para o que a Teoria de Comunicação Social sugere que o contexto configurado pelos programas peer-to-peer (P2P) seja tomado como modelo.  Estaríamos diante de um contexto em que “a informação e, principalmente, o conhecimento são tanto insumos como produtos cada vez mais importantes para a produção cultural, econômica, artística, intelectual e, assim, para o desenvolvimento econômico e social”, estabelecendo-se a configuração de “um novo paradigma da difusão e construção do conhecimento”, o qual seria observado no “compartilhamento através das redes de criação e inovação”.

Nos termos da Teoria de Comunicação Social esse modelo principal de análise e interpretação é o seguinte: “O compartilhamento do conhecimento tem sido a base da inovação e da produção de novos conhecimentos. As modernas tecnologias de informação e comunicação  proporcionam ferramentas inovadoras para o intercâmbio de conhecimento em  nível global e em tempo real; consolida-se cada vez mais uma cultura do compartilhamento, baseada principalmente nas comunidades de interesses e, cada vez mais, na troca entre particulares – nas redes do tipo P2P” (ibidem Machado, 2005).

Na realidade, o que a Teoria de Comunicação Social quer dizer quando nos fala de um novo paradigma de construção do conhecimento não é tanto o fato de que as tecnologias da informação possibilitam que o conhecimento técnico seja construído em seus conteúdos lógico-numéricos pelas próprias ferramentas tecnológicas, ou que as tecnologias sejam construídas pelas próprias tecnologias (os computadores constroem computadores, robôs constroem robôs), mas, simplesmente, que, ao quebrar-se o elo convencional em torno da função de fazer o conhecimento/informação/mensagem chegar ao consumidor, a difusão desse conhecimento, tal como disponibilizado na indústria cultural, passa a sofrer os efeitos das redes de redes, de tal sorte que “o compartilhamento desse conhecimento tem sido a base da inovação e da produção de novos conhecimentos”.

Portanto, a noção de “construção” do conhecimento é empregada no sentido preciso de que o conhecimento / informação / mensagem não é mais imposto desde cima pela indústria cultural, mas o usufruto do mesmo como conteúdo impresso / gravado socialmente comunicado resulta do círculo dos administradores e usuários das novas tecnologias da informação,  sobretudo do compartilhamento e das trocas entre os particulares decorrente das novas redes de redes P2P.

Admite-se, então, que esse conhecimento / informação / mensagem assim difundido e desfrutado em redes de redes introduz novas referências para a compreensão dos papéis na indústria cultural, já que, por sua vinculação direta aos meios tecnológicos de difusão da informação, ou como extensão desses meios, sobretudo pela magnitude do seu volume e rapidez, adquire um valor econômico próprio que anteriormente não se verificava.

 Daí falar-se em conhecimento-insumo e em conhecimento-produto para chegar a uma análise dessa situação em que, como foi dito, “uma quantidade gigantesca de informação flui de forma descentralizada e frenética pela rede”.

 Quer dizer, trata-se de uma configuração particular do conhecimento técnico como atividade de selecionar e classificar as informações recebidas das redes com o fim de fabricar, confeccionar ou elaborar produtos que retornem as informações para as redes, num encadeamento sucessivo e ininterrupto, no qual toda a informação já é um conhecimento técnico, já é uma atividade de selecionar e classificar informações em redes.

 Esse conhecimento é então tornado informação por seu estatuto duplamente instrumental nessa corrente circular (a informação como conhecimento-insumo e conhecimento-produto e vice-versa) e todo o consumidor / usuário vem a ser de alguma maneira autor / produtor cultural e vice-versa, com todos esses papéis revertendo em benefício do desenvolvimento sustentado das próprias tecnologias da informação. Tal o seu valor econômico.

 

 

Portanto, a novidade não é tanto o incremento do conhecimento técnico, que já é predominante nos tempos modernos, mas, sim, a mudança dos papéis econômicos na indústria cultural em decorrência desse incremento, os quais, como dissemos, passam a reverter em benefício do desenvolvimento das tecnologias da informação / comunicação, pressionando não só a indústria cultural, mas toda a indústria do copyright. 

A Teoria de Comunicação Social sofre, pois, os efeitos dessa pegada das tecnologias da informação /comunicação e nos deixa ver seu componente discursivo na sua própria maneira de formular tal configuração particular de um conhecimento técnico com acréscimo de valor no sistema cognitivo.

Ela o representa em termos de “conhecimento-insumo” e de “conhecimento produto”, e promove desse modo, nessa representação, os valores do utilitarismo (não é tanto o conhecimento que importa, mas a utilidade da atividade classificadora –como insumo-- para o desenvolvimento das tecnologias da comunicação, considerado como um progresso benéfico).

Vale dizer, a Teoria de Comunicação Social posiciona-se em face da potenciação do conhecimento técnico como atividade classificadora em redes, diretamente exercida no prolongamento das próprias tecnologias da informação e em benefício do desenvolvimento destas - o que, portanto, pode ser definida como uma atividade tecnológica.

 Desta forma, cabe indagar se a Teoria de Comunicação Social, ao conceituar tal atividade classificadora em redes como conhecimento-insumo – um valor econômico ou sócio-econômico – não estaria incorrendo numa projeção pelo utilitarismo para o domínio dos símbolos sociais daquela potenciação do conhecimento técnico? 

Formulando de outro modo: não estaria revalorizando uma “noção tecnológica do conhecimento” (atividade tecnológica impulsionando o desenvolvimento das próprias tecnologias da informação) ao invés de sua compreensão sociológica? 

Em conseqüência, no sentido dessa noção tecnológica do conhecimento, e antes de configurar um fenômeno de comportamento, a “cultura do compartilhamento” seria o modo pelo qual o desenvolvimento das tecnologias da informação se beneficia da mudança dos papéis na indústria cultural e vice-versa. 

 

 

Não que a projeção pelo utilitarismo careça de procedência ou deva ser repelida como estranha ao objeto da Teoria de Comunicação Social. Pelo contrário: antes de prejudicar a mirada sobre a mídia e as tecnologias da informação, o utilitarismo moderno a favorece, na medida em que constitui uma filosofia pública preconizando que “as ações publicas só possam ser julgadas pelas conseqüências benéficas que elas possam ter” para a vida em comum.

Como se sabe, a defesa de um ‘utilitarismo liberal’ como filosofia pública é notada por alguns estudiosos como uma idéia que já pode ser encontrada em John Stuart Mill. Admitem-se as seguintes orientações:

 (a)-que o fato do utilitarismo não incentivar “o cumprimento indiscriminado de promessas e a expressão da verdade”, embora seja fatal no nível social, seria pelo menos aceitável no nível político-público;

 (b)-que a noção vaga de “felicidade” ali adotada seria um modo de criar “um espaço de negociação entre interesses diferentes e conflitantes, respeitando as tendências pluralistas das sociedades contemporâneas”, tanto mais que “a variedade das escolhas aumenta a possibilidade da felicidade, principalmente numa sociedade pluralista”;

(c) – que o utilitarismo das ações ao nível moral é ineficaz e tem resultados contra-intuitivos [o imperativo de que cada ação deva ser ponderada de forma que maximize a felicidade do maior número não garante contra os abusos].

(d) - que o utilitarismo liberal é um utilitarismo político que pode (deve) ser eficaz e cujos resultados contra-intuitivos são bloqueados pela sua vertente liberal.

Por fim, admite-se que as idéias de democracia, progresso e de direito à escolha são três idéias enraizadas na cultura pública que podem ser explicadas em termos utilitaristas [a democracia pode ser vista como uma espécie de Utilitarismo aplicado, na medida em que, sendo o governo da maioria, defenderá os interesses do maior número].

Assim sendo, o utilitarismo liberal está longe de ser uma proposta inconsistente e a idéia de que uma das funções da política é promover o bem-estar humano encontra nele uma justificação teórica adequada ([5]) (Cf. Bizarro, Sara: 2001). 

 

 

Do ponto de vista da sociologia, o termo conhecimento não é utilizado para representar atividade de outra ordem (como a inteligência artificial, no sentido amplo deste termo) nem encobre afirmação de valores morais ou filosóficos.  Do que foi dito acima, a atividade de selecionar e classificar as informações recebidas das redes com o fim de fabricar, confeccionar ou elaborar produtos que retornem as informações para as redes é com certeza conhecimento técnico.

Todavia, se essa atividade assimilando um incremento de ordem tecnológica pode ter o efeito de beneficiar o desenvolvimento sustentado das próprias tecnologias da informação e vice-versa é um valor sócio-econômico que já extrapola e é exterior ao nível do conhecimento propriamente dito, ainda que ao mesmo apareça acoplado.  A atividade que se desenrola em prolongamento da ferramenta tecnológica incorpora um incremento (“accroissement”) estranho aos juízos cognitivos.

  Ainda que, na sua simbolização como compartilhamento, se possa falar de uma “apreensão” indireta relativamente ao ciberespaço, está claro que, sendo este último uma extensão dos conteúdos única e exclusivamente lógico-numéricos, não se trata das amplitudes concretas apreendidas na experiência humana, base dos objetos do conhecimento, haja vista a parte que cabe às máquinas inteligentes em tal “apreensão”, ou melhor, interação cibernética.

A sociologia do conhecimento como disciplina das Ciências Humanas já mostrou que a capacidade cognitiva de encontrar correlações e tirar inferências gera-se no espaço da sociabilidade - verificado e confirmado pelo coeficiente existencial do conhecimento de que nos falará Gurvitch na “Segunda Parte” deste ensaio (ver adiante).

 É no espaço da sociabilidade, ou melhor, nas amplitudes concretas da percepção coletiva que está mergulhado o mundo exterior, espaço que já é apreendido nos Nós, forma de sociabilidade esta última que, por sua vez, constitui o primeiro foco da experiência humana (ver: Gurvitch, 1962).

 

 

De fato, em acordo com esta orientação, na elaboração da explicação em sociologia, o sociólogo descreve e aplica os diversos procedimentos relativista-dialéticos de intermediação que ele encontra na própria realidade social descoberta, para fazer ressaltar o acordo ou desacordo do conhecimento em correlações funcionais com os quadros sociais.

Essa atitude de descrever correlações exclui qualquer “invencionismo” e não induz a “deformação” alguma, mas pode certamente favorecer a diminuição da importância do coeficiente existencial do conhecimento pela tomada de consciência. A liberdade humana como escolha, decisão ou criação, antes de se limitar ao indivíduo, em particular ao sociólogo, se afirma também nas manifestações coletivas as quais, elas mesmas, estruturam a realidade social que por isso não pode ser mais do que “descoberta” pelo sociólogo (e não inventada).  

 

***

 

Segunda Parte:

 Em busca da sociologia do conhecimento

 

 

 

 

 

 

Quer dizer, paralelamente às análises do automatismo relacionando cibernética, alienação e realização do pensamento teórico, sabemos que a contribuição da sociologia do conhecimento para a reflexão da sociedade de informação deve ser buscada sobretudo na descrição dos sistemas cognitivos.       

Com efeito, os sistemas cognitivos compreendem diferentes hierarquias de “classes do conhecimento” entrecruzadas com as diferentes “acentuações das formas” dessas classes – observadas no âmbito mesmo dessas classes de conhecimento, como veremos adiante.

Nas estruturas sociais o saber está em correlações funcionais e como sistema cognitivo desempenha um papel de argamassa juntamente com as demais obras de civilização – sendo a este “papel cimentador” que se refere a noção de controles ou regulamentações sociais.

Note-se que o papel de argamassa não deve ser confundido com as obras de civilização elas próprias. Em seu conjunto infinito, o direito, o conhecimento, a arte, a religião, a moral, a educação ultrapassam este seu “papel” constringente. É errônea a identificação das obras de civilização a uma função de adaptação do espírito às situações existentes [6] .

A análise diferencial desenvolvida pela sociologia em sua “démarche” tem partida nas classes do conhecimento mais espontaneamente implicadas na realidade social como o são o conhecimento perceptivo do mundo exterior, o conhecimento de outro e o conhecimento de senso comum.

 Em seguida, a análise sociológica progressa para aquelas mais implicadas na engrenagem das estruturas sociais como o são, por sua vez, o conhecimento técnico, o conhecimento científico, o conhecimento político e finalmente o conhecimento filosófico.

 Nessa progressão, a sociologia do conhecimento permite assinalar as diferenças nas fases por que passam os sujeitos sociais para se constituírem como tais, isto é, para se afirmarem como intermediários e se objetivarem nos quadros sociais.

Em realidade, o sequenciamento praticado nesta análise “gurvitcheana” é uma via de mão dupla, e a configuração dos quadros sociais é marcada pela ambigüidade e pela ambivalência dialéticas, de tal sorte que os próprios intermediários ora são pendentes mais para a função simbólica, ora mais para a função social real, dependendo das situações de fato, isto é, conforme a perspectivação sociológica do conhecimento.

 Portanto, o “salto qualitativo” por trás da configuração dos quadros sociais não é totalmente irreversível e quando se verifica a objetivação da funcionalidade o estágio “menos complexo” da tomada de consciência permanece em tensão, sem síntese superadora.  

 

O conhecimento perceptivo, o conhecimento de outro e o conhecimento de senso comum, os mais profundamente implicados na realidade social, são estudados no âmbito da hierarquia em classes do conhecimento, havendo, todavia uma lógica bem marcada na seqüência com que figuram nesta análise.

 

O conhecimento perceptivo do mundo exterior é privilegiado e, como já o notamos, dá conta das perspectivas recíprocas, sem as quais não há funções estritamente sociais, enquanto os demais conhecimentos já são classes de conhecimento particular, já são funções correlacionadas dos quadros sociais e pressupõem aquele conhecimento perceptivo do mundo exterior.

Isto não significa que haja qualquer atribuição de valor, mas apenas a constatação de que a simples manifestação dos temas coletivos, como conjuntos complexos e abertos, é diferenciada, de fato, através da colocação em perspectiva sociológica do conhecimento perceptivo do mundo exterior, do conhecimento de outro e do conhecimento de senso comum.

Em resumo: onde se verifique essas classes do conhecimento profundamente implicadas na realidade social descobre-se a simples manifestação dos temas coletivos – os Nós, os grupos, as classes sociais, as sociedades – de tal sorte que o conhecimento aparece como obstáculo, constringente como aquilo que suscita os esforços e faz participar no real.

 

 

Ralf Dahrendorf, por exemplo,  conhecido como um dos mais notáveis estudiosos da teoria dos papéis sociais e crítico conseqüente do funcionalismo de Talcott Parsons, buscando uma visão estritamente sociológica do mundo dos valores, constrói seu conceito de grupo de referência no marco da psicologia social e, por isso, encontrou muitos embaraços para sustentar seus enunciados sociológicos.

Liga-se ele à corrente de outro sociólogo influente no século XX, como o foi Robert K. Merton, quem faz uso direto da psicologia social na definição do conceito operativo de grupo de referência.  A diferença é que, do ponto de vista psicológico, tais grupos de referência são tidos como “grupos de fora funcionando como padrões de valores”, enquanto que Dahrendorf nega essa situação de “grupo de fora arbitrariamente escolhido”, chegando a defini-lo como “um grupo com o qual a pessoa tem uma relação necessária em virtude de uma de suas posições sociais”.

Essa orientação baseada numa compreensão formal da estratificação leva-o ao enunciado de que “todo o segmento de posição estabelece uma relação (necessária) entre o ocupante da posição e um ou mais grupos de referência”.

À continuidade, então, fica estabelecido “um conjunto de grupos de referência, cada um dos quais impõe ordens e é capaz de sancionar o comportamento da pessoa”, seja positivamente, seja negativamente.

Desse modo, esse autor passa a entender que a questão da natureza da sociedade se transforma na  questão de saber  como os grupos de referência formulam e sancionam as expectativas das posições que definem” . (cf. Dahrendorf, 1974, pp.62/63).

Então, por contra, se nos colocarmos desde o ponto de vista da sociologia do conhecimento, podemos ver que a indicada “relação necessária”, sendo tomada separadamente dos Nós e de toda a manifestação microssocial, de todas as relações com outrem atuantes nesses Nós grupais, surge como atributo impositivo do “segmento de posição”, é exteriorizada.

Será em razão dessa formulação conceitualista que, como se sabe, Ralf Dahrendorf se verá na circunstância embaraçosa de esclarecer sobre a proporção  em que os enunciados da sua teoria de papéis sociais seriam de molde a favorecer a “reificação”.

Isto porque, nessa teoria, a pessoa, o indivíduo social, fica constrangida a enquadrar-se nessa “relação necessária” que lhe é imposta como um valor por força da objetivação conceitual do grupo vinculado ao segmento de posição (cf.ib.pp.106/126).

Nitidamente influenciado pela epistemologia nomológico-dedutiva de Karl Popper, apesar de sua orientação mitigada sobre o princípio popperiano de refutabilidade das teorias científicas, Dahrendorf nessa obra mencionada não percebe o alcance da sociologia do conhecimento para acentuar a relativização das objetivações dos conceitos sociológicos.

 Vale dizer, esse autor deixa escapar sobretudo o alcance das correlações funcionais entre, por um lado, os quadros sociais – incluindo os Nós, os grupos, as classes sociais, as sociedades globais e suas estruturas – e por outro lado os diferentes gêneros do conhecimento.

 Note-se que não se trata aqui apenas do conhecimento científico, mas de todo o juízo que pretenda afirmar a verdade sobre alguma coisa. Ou seja, por conhecimento deve entender-se “os atos mentais em que se combinam a experiência imediata e mediata em diferentes graus com o juízo”.

Em face disto, o enunciado de que “os grupos de referência formulam e sancionam as expectativas das posições que definem”, só valerá de maneira relativizada e não por força direta da objetivação desses grupos.

 Note-se, de passagem, que essa atribuição de uma necessidade lógica na base da vida social é igualmente afirmada na reflexão de Claude Levy-Strauss, o autor da influente “Antropologia Estrutural”.

A afirmação da “existência de um estruturalismo lógico universal na base de toda a sociedade” releva dos preconceitos do século XVIII e da idéia de uma consciência transcendental e universal. Segundo o comentário crítico de Gurvitch, Levy-Strauss “parece crer que o fato de subscrever-se ao juízo de Paul Ricoeur que qualifica seu pensamento de ‘kantismo sem sujeito transcendental’ vá fortalecer sua posição, esquecendo que, para Kant, não podia haver oposição entre ‘sujeito transcendental’ e ‘consciência transcendental’ reconhecida como idêntica para todos[7].

Em realidade, todos os agrupamentos particulares, como qualidades apreendidas, entram em correlações funcionais com o conhecimento, com o saber, o qual é praticado em modo variado pelos participantes.

 A suposta “determinação” de que tais grupos chamados grupos de referência “formulam e sancionam as expectativas ou o comportamento das pessoas” revela-se um enunciado restritivo.

Restritivo em sentido forte do termo e não apenas condicional ou probabilitário. Tal enunciado (a) – leva a excluir a mediação pela dependência do saber que as pessoas têm, no caso, a dependência da percepção do mundo exterior, incluindo a percepção da extensão e dos tempos; além disso, (b)- exclui igualmente a dependência que os participantes têm do conhecimento de outro, dos Nós, dos grupos, das classes, das sociedades e, até mesmo, (c)- exclui a dependência do conhecimento político.

 As expectativas de papéis são realidades complexas e variadas que aí estão em dinâmicas coletivas de avaliação, implicando o conhecimento, a moral, o direito, a educação, etc., como controles ou regulamentações sociais, cujas sedes focam-se em tipos diferentes e conflitantes de agrupamentos, classes e sociedades globais.

 

Sem dúvida, o peso do conhecimento na vida social e sua importância para as pessoas sendo maiores nas sociedades modernas e nas nossas sociedades atuais, constituem um aspecto não negligenciável da experiência e da criação coletiva na teoria dos papéis sociais.

 

A acentuação da dependência do fenômeno social de conjunto, a eficácia das correlações funcionais entre os quadros sociais e o conhecimento como qualidades que se expressam umas pelas outras, tem prioridade no estudo das expectativas de papéis sociais.

 As alterações em tais correlações funcionais podem, inclusive, levar às profundas transformações estruturais que vemos em nossos dias, trazidas com o intenso desenvolvimento das tecnologias da informação. De sorte que as correlações cedem lugar à causalidade singular em que, ao inverso do que se verificou até o último quarto do século XX, com os quadros sociais se impondo sobre o saber, nota-se hoje em dia que, impulsionado pelas TICs, este último passa a condicionar os primeiros.

 

Outros aspectos do problema da diferenciação entre os valores e o conhecimento na realidade social.

 

Mas não é tudo. Em seu tratado de sociologia do conhecimento intitulado “A Construção Social da Realidade”, Peter Berger e Thomas Luckmann desenvolvem uma análise dos “processos de legitimação pelos universos simbólicos” que toma por base a intersubjetividade e a biografia individual (cf.1978, pp.124/132) . Abordam o problema da transmissão a uma nova geração das “objetivações da ordem institucional” assim tornada histórica. Quer dizer, a legitimação é tratada como uma questão de tradição teórica, incluindo as explicações e justificações.

Entretanto, remando contra a corrente, o esquema analítico desses autores afirma a precedência do conhecimento sobre os valores e se aplica a partir da distinção de quatro níveis.

Inicialmente, a legitimação “incipiente” acha-se presente “logo que um sistema de objetivações lingüísticas da experiência humana é transmitido”. É o primeiro nível, que inclui “todas as afirmações tradicionais simples do tipo ‘é assim que se faz as coisas”. É o nível pré-teórico e constitui o fundamento do conhecimento evidente, “sobre o qual devem repousar todas as ‘teorias subseqüentes’ e, inversamente, ao qual estas devem atingir para serem incorporadas à tradição”.

O segundo nível contém proposições teóricas em forma rudimentar, incluindo esquemas explicativos que relacionam “conjuntos de significações objetivas” e que “são altamente pragmáticos”, como “os provérbios, as máximas morais e os adágios da sabedoria” -ademais das lendas e histórias populares.

O terceiro nível já compreende “teorias explícitas”: um “corpo diferenciado de conhecimentos” oferecendo um “quadro de referência” amplo para a “conduta institucionalizada”. Já se nota a função de “pessoal especializado” para a transmissão desse conhecimento, pelo que o processo de legitimação começa a atingir “um grau de autonomia em relação às instituições legitimadas”, podendo gerar “seus próprios procedimentos institucionais”.

É somente no quarto nível que se impõem os universos simbólicos como tais, isto é, como “corpos de tradição teórica que (a)-integram diferentes áreas de significação”, (b)-abrangem a ordem institucional em “processo de significação”, (c)-se referem a realidades diferentes das pertencentes à experiência da vida cotidiana”, (d)-realizam o grau mais alto de integração “de particulares áreas de significado” e de “processos separados de conduta institucionalizada”.

Quer dizer, “todos os setores da ordem institucional acham-se integrados num quadro de referência global”. Desse modo, a “integração reflexiva de processos institucionais distintos alcança sua plena realização”; “todas as teorias legitimadoras menores são consideradas como perspectivas especiais”; “os papéis institucionais tornam-se modos de participação”.

 

Para Berger e Luckmann os universos simbólicos são passíveis de cristalização segundo processos de “objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento”.

 

Desse modo, “se quisermos entender o seu significado temos de entender a história da sua produção”, em termos de objetivação, sedimentação e acumulação do conhecimento. A “função nômica” do universo simbólico é que “põe cada coisa em seu lugar certo”, permitindo ao indivíduo “retornar à realidade da vida cotidiana”.

A análise dos processos de legitimação por Berger e Luckmann tem em conta que, nas objetivações em que as teorias são observadas, surge a questão de saber “até que ponto uma ordem institucional, ou alguma parte dela é apreendida como uma faticidade não humana”, e que essa “é a questão da reificação da realidade social”. Trata-se de saber “se o homem ainda conserva a noção de que, embora objetivado, o mundo social foi feito pelos homens e, portanto, pode ser refeito por eles”. 

É a reificação como grau extremo do processo de objetivação, extremo esse no qual “o mundo objetivado perde a inteligibilidade e se fixa como uma faticidade inerte”. Os significados humanos são tidos, então, como “produtos da natureza das coisas”.

Quer dizer, a reificação é uma modalidade da consciência, de tal sorte que, mesmo apreendendo o mundo em termos reificados, o homem continua a produzi-lo – paradoxalmente, o homem é capaz de produzir uma realidade que o nega.

Em conseqüência a análise visando a integração reflexiva nota que “a reificação é possível no nível pré-teórico e no nível teórico da consciência”: “os sistemas teóricos complexos podem ser descritos como reificações, embora presumivelmente tenham suas raízes em reificações pré-teóricas  -“a reificação existe na consciência do homem da rua” e não deve ser limitada às construções dos intelectuais.

Da mesma maneira, seria “um engano considerar a reificação como uma perversão de uma apreensão do mundo social originariamente não reificada”: “a apreensão original do mundo social é consideravelmente reificada”.

Em contrapartida, prosseguem Berger e Luckmann, a apreensão da própria reificação como modalidade da consciência “depende de uma desreificação ao menos relativa da consciência”, exigência sócio-lógica esta que “é um acontecimento comparativamente tardio”.

Completando seu esquema analítico, os autores mencionados notam que as instituições podem ser apreendidas em termos reificados quando se lhes outorga “um status ontológico independente da atividade e da significação humanas”. Quer dizer, através da reificação “o mundo das instituições parece fundir-se com o mundo da natureza”.

Da mesma maneira, os papéis sociais podem ser reificados, de tal sorte que “o setor da autoconsciência que foi objetivado num papel é então também apreendido como uma fatalidade inevitável, podendo o indivíduo negar qualquer responsabilidade”.  Quer dizer, “a reificação dos papéis estreita a distância subjetiva que o indivíduo pode estabelecer entre si e o papel que desempenha”. 

E os autores completam: “a distância implicada em toda a objetivação mantem-se, evidentemente, mas a distância causada pela desidentificação vai se reduzindo até o ponto de desaparecer”.  A conclusão é de que a análise da reificação serve de corretivo padrão para as tendências reificadoras do pensamento teórico em geral, e do pensamento sociológico em particular.              

 

 

O saber em correlações funcionais nas estruturas sociais constitui os sistemas cognitivos e desse modo, junto com as demais obras de civilização como a moral, a educação, o direito, desempenha o papel de argamassa dos elementos estruturais (controles sociais).

Retomando com essa constatação a nossa exposição sobre as classes do conhecimento descritas por Gurvitch, devemos dar ênfase ao seguinte: o conhecimento técnico, o conhecimento político, o conhecimento científico e o conhecimento filosófico são estudados exatamente nesta seqüência, em suas diferenças específicas ----guardam seus segredos— como classes de um conhecimento particular, não-privilegiado, ao contrário do conhecimento perceptivo do mundo exterior que o é.

 São classes do conhecimento igualmente implicadas na realidade social, porém de modo específico, vale dizer: imbricam-se na engrenagem das estruturas sociais. Nesse caráter estrutural específico do conhecimento, nesta sua distributividade em função dos seus próprios segredos, o conhecimento técnico, o conhecimento político, o conhecimento científico e o conhecimento filosófico exigem quadros de referência, exigem as interpretações das funções e, portanto, servem à marcha dos temas coletivos preferencialmente lá onde se atualiza a tomada de consciência em suas conceituações e simbolizações. 

Quer dizer, a perspectivação sociológica do conhecimento técnico, do conhecimento político, do conhecimento científico, do conhecimento filosófico, faz ver, preferencialmente, o aprofundamento na luta dos temas coletivos como sujeitos da tomada de consciência, compreendendo nestes as massas, as comunidades, as comunhões, os agrupamentos particulares --incluindo os grupos profissionais, as universidades, os Estados, as Igrejas, as fábricas, os agrupamentos de localidades-- as classes sociais, as sociedades globais, como tipos de quadros sociais do conhecimento em estado de correlações funcionais.

Há que sublinhar o caráter irredutível do conhecimento técnico, que é um conhecimento “sui generis”, inspirado e penetrado pelo desejo de dominar o mundo da natureza, o mundo humano e o da sociedade; desejo de manejá-los, manipulá-los, comandá-los a fim de produzir, destruir, salvaguardar, organizar, planificar, comunicar e difundir. 

O conhecimento técnico é uma parte constitutiva da práxis e se integra diretamente nas forças produtivas.  Mas não se limita só ao conhecimento da manipulação da matéria nem se identifica com a tecnologia, já que é um conhecimento explícito enquanto se transmite e implícito enquanto se exerce como habilidade e manipulação, sendo desprovido da exclusividade das competências tecnológicas, que são restritas aos seus detentores. 

O domínio do conhecimento técnico é incomparavelmente mais vasto que o manejo da matéria e abarca todas as manipulações eficazes, todavia essas manipulações tendem a independizar-se e a valorizar-se como manipulações precisas, transmissíveis e inovadoras. 

É na observação das variações dos graus do conhecimento técnico dentro de um mesmo tipo de sociedade que a análise sociológica constata a importância dos segredos técnicos como critério cognitivo da especificidade dessa classe de conhecimento.

Quer dizer, na sua distribuição, os graus mais altos ficam para os “experts”, que são os possuidores dos segredos técnicos, enquanto os graus mais baixos são atribuições dos executantes de ordens recebidas, dos grupos de ofício ou dos simples homens. 

É este caráter específico do conhecimento técnico, esta sua distributividade em função dos seus próprios segredos dentro de um mesmo tipo de sociedade que torna sua importância desigual e inesperada para os distintos tipos de sociedades globais. 

 

 

Já tivemos a ocasião de lembrar que os sistemas cognitivos são assim designados por Gurvitch porquanto sejam correspondentes à variedade dos tipos de sociedades globais e suas estruturas parciais ou globais, como quadros sociais, isto é, precisamente como intermediários entre os atos humanos e as obras de civilização.

 As acentuações das formas das classes do conhecimento são observadas, portanto, a partir da análise das classes do conhecimento como correlacionadas aos quadros sociais. Sem dúvida, essas formas se modificam, igualmente em função dos quadros sociais e podem servir para caracterizar, segundo o caso, tanto os sistemas variáveis de classes do conhecimento, quanto cada uma dessas classes em suas relações com os quadros sociais, que a análise deverá precisar.

 Tratam-se de formas em dicotomias que se encontram diferentemente acentuadas dentro de cada classe do saber, portanto, são as formas de relatividade das classes do conhecimento, das quais Gurvitch estuda as cinco dicotomias seguintes: 1) - o conhecimento místico e o conhecimento racional; 2) - o conhecimento empírico e o conhecimento conceitual; 3) - o conhecimento positivo e o conhecimento especulativo; 4) - o conhecimento simbólico e o conhecimento adequado; 5) - o conhecimento coletivo e o conhecimento individual. 

Revelando a compreensão relativista de que estas formas se apresentam antes como tendências ou matizes e só excepcionalmente em relativa pureza, note-se que esta diferenciação das formas do conhecimento segundo dicotomias procede da constatação de que todo o conhecimento é uma combinação dialética de experiências e juízos.  

 

A sociologia do conhecimento perceptivo do mundo exterior, pondo em relevo as amplitudes concretas apreendidas na consciência coletiva visa sobretudo resguardar a integridade do mundo exterior em sua relativa diversidade como condição da experiência humana, “salvando-o” da dominação pelo elemento das imagens, isto é, liberando-o do preconceito da consciência fechada ou idêntica em todos, genérica (introspecção).

 

Sem dúvida, o alcance sociológico de toda essa análise considera as classes do conhecimento cada vez que apareceram em um quadro social, logo, cada vez como uma classe do conhecimento que estava rechaçada ao último lugar no tipo de sociedade a que correspondiam.

O critério básico da possibilidade da disposição das classes e das formas do conhecimento em um sistema cognitivo descobre-se pela observação de que a marcha dos temas coletivos reais se afirma na medida em que “uma quantidade considerável de percepções, ainda individuais, são controladas e sugeridas por critérios coletivos” que integram a seleção perceptiva dos objetos.

Fala-se então de “amplitudes concretas”, como as extensões opostas às tensões características dos diferentes graus da duração qualitativa (ver: Gurvitch, 1962). Daí o conhecimento perceptivo do mundo exterior, que afirma como verdadeiro um conjunto coerente de imagens imbricadas em amplitudes e tempos concretos e específicos. Aliás, é do ponto de vista dessa classe privilegiada do conhecimento que se torna possível verificar que a percepção das amplitudes assim como a possibilidade de conceituá-las e quantificá-las são muito variáveis e dependem dos quadros sociais.

Desta sorte, posto que em sociologia, assim como a base morfológica da sociedade composta de produtos, instrumentos, acervos, o mundo exterior não é desprovido de poder de atração, temos as seguintes diretivas no ensino da nossa disciplina:

 (1) – o conhecimento perceptivo do mundo exterior se nos apresenta como um domínio privilegiado, embora, nesta seqüência, também:

(2) – o conhecimento de outro, dos Nós, dos grupos, das classes sociais e das sociedades; (3) – o conhecimento político e (4) – certos ramos do conhecimento científico (ciências naturais e ciências humanas, incluindo a história e a sociologia), “implicam o estudo das amplitudes e dos tempos específicos em que se movem seus objetos”.

 Com outras palavras, se o conhecimento aparece em classes como se fosse uma distribuição de probabilidades no sentido dos “meios” em “estratificação social”, o estudo das amplitudes e dos tempos de seus objetos dá conta da diferença específica entre os limites de cada classe do conhecimento, quer dizer, nos faculta a qualidade ou caráter desses objetos, bem como os intervalos, as durações em que estão dados a nós.

Seja como for, o conhecimento perceptivo do mundo exterior encontra obstáculo na própria “percepção coletiva de amplitudes e tempos em que está situado este mundo” – percepção esta que o próprio conhecimento perceptivo pressupõe.

Quando estava “em último lugar” no quadro da sociedade feudal, o conhecimento perceptivo do mundo exterior alcançando a morfologia social  tinha como expressões a “ausência de perspectiva na arte, o plissamento das cidades e dos povoados em si mesmos, em sua arquitetura e sua disposição”, estando assim em acordo com o caráter fechado da mentalidade coletiva naquele tipo de sociedade global.

As amplitudes e os tempos estão pois entre os obstáculos suscitantes da manifestação e da tomada de consciência dos temas coletivos reais como sujeitos – os Nós, os grupos, as classes , as sociedades globais – e portanto são descobertas e verificadas a partir dessa tomada de consciência.

 

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A Teoria de Comunicação Social e a Sociologia do Conhecimento

 

CONCLUSÕES

 

Para fazer frente aos novos temas e novos desafios à compreensão/explicação colocados pela cultura do compartilhamento, a sociologia do conhecimento oferece à Teoria de Comunicação Social a descrição dos sistemas cognitivos como instrumento de análise e interpretação capaz de: (a) - trazer maior precisão ao uso da noção do conhecimento na reflexão da sociedade de redes de informação e (b) - levar a uma recolocação mais qualitativa do tema e do problema das relações entre as tecnologias da informação e as sociedades no âmbito da base morfológica da consciência coletiva.

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A Teoria de Comunicação Social e a Sociologia do Conhecimento

 

BIBLIOGRAFIA

 

 

BERGER, Peter e LUCKMANN, Thomas: “A Construção Social da Realidade: Tratado de Sociologia do Conhecimento”, Trad. Floriano Fernandes, Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1978, 4ªedição, 247 pp. (1ªedição em Inglês, New York, 1966).

 

BIZARRO, Sara: Utilitarismo Moral & Utilitarismo Político, Revista Intelecto (Sociedade Portuguesa de Filosofia) Nº5/ arquivo – Fevereiro 2001 link: http://www.geocities.com/revistaintelecto/ (pesquisado em 28.12.2005; verificado em 19.04.2006).

 

CASTELLS, Manuel ("The Internet Galaxy: reflections on the internet, business and society", Oxford University Press, Oxford (England), 200l. Tradução em português-brasileiro, editor Zahar, Rio de Janeiro 2003);

 

DAHRENDORF, Ralf: “Ensaios de Teoria da Sociedade”, Tradução Regina Morel, Revisão e Notas Evaristo de Moraes Filho, Zahar - Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), Rio de Janeiro 1974, 335 pp. (1ªedição em Inglês, Stanford, Eua, 1968).

 

GURVITCH, Georges (1894-1965): “Dialectique et Sociologie”, Flammarion, Paris 1962, 312 pp., Col. Science.

 

GURVITCH, Georges (1894-1965): “Los Marcos Sociales Del Conocimiento”, Trad. Mário Giacchino, Monte Avila, Caracas, 1969, 289 pp. (1ªedição em Francês: Paris, Puf, 1966).

 

MACHADO, Jorge Alberto S.: “Difusão do conhecimento e inovação - o Acesso Aberto a publicações científicas” pdf; 2005, Gestão de Políticas Públicas, Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, EACH/USPmachado@usp.br, link:

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MANNHEIM, Karl : « Ideologia e Utopia : uma introdução à sociologia do conhecimento », tradução Sérgio Santeiro, revisão César Guimarães, Rio de Janeiro, Zahar editor, 2ªedição, 1972, 330pp.(1ªedição em Alemão, Bonn, F.Cohen, 1929 ; 2ªedição remodelada em Inglês, 1936).

 

ORTEGA, Vicente: “Tecnologías y Sociedad de la Información” - Revista TELOS (grupo Telefônica de Espanha) Abril-Junio 2004 || Nº 59 Segunda Época; http://www.campusred.net/telos/ http://www.campusred.net/telos/home.asp?idRevistaAnt=59&rev=&rev=; (pesquisada em 28.12.2005; verificada em 19.04.2006).

 

RICHERI, Giuseppe: ”Una actividad en pleno crecimiento. La industria del copyright en la economía de Estados Unidos”, Revista TELOS, Julio-Septiembre 2004 || Nº 60 Segunda Época  link:

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(pesquisado em 28.12.2005; verificado em 19.04.2006).

 

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Etiquetas:

Teoria de Comunicação, conhecimento, sistemas cognitivos, realidade social, correlações funcionais, tecnologia, utilitarismo, Internet, cultura do compartilhamento, sociologia.

 

 

Comunicação Social e Sociologia do Conhecimento

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Fim do Capítulo/Artigo:

Leitura da teoria de comunicação social desde o ponto de vista da Sociologia do conhecimento

 (as tecnologias da informação, as sociedades e a perspectivação sociológica do conhecimento)

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[1] A versão original deste artigo encontra-se publicada em E-book pelo website Leituras do Século XX http://www.leiturasjlumierautor.pro.br e pode ser lido na Web da O.E.I. desde 22 Julio 2007 - link: http://www.oei.es/0707.htm

 

 

[2] Brunschvicg, León (1869-1944): “Spinoza et ses contemporaines”, Paris, Press Universitaires de France-PUF, 1971, 4ªédition, (1ªédition: “Spinoza”, 1906).

[3] Em 2001, já encontramos a boa formulação da virtualidade real, seguinte: “La especificidad de Internet  es que constituye la base material y tecnológica de la sociedad red, es la infraestructura tecnológica y el medio organizativo que permite el desarrollo de una serie de nuevas formas de relación social que no tienen su origen  en Internet, que son fruto de una serie de cambios históricos pero que no podrían desarrollarse sin Internet. Esa sociedad red es la sociedad que yo analizo como una sociedad cuya estructura social está construida en torno a redes de información a partir de la tecnología de información microelectrónica estructurada en Internet. Pero Internet en ese sentido no es simplemente una tecnología; es el medio de comunicación que constituye la forma organizativa de nuestras sociedades, es el equivalente a lo que fue la factoría. Internet es el corazón de un nuevo paradigma sociotécnico que constituye en realidad la base material de nuestras vidas y de nuestras formas de relación, de trabajo y de comunicación. Lo que hace Internet es procesar la virtualidad y transformarla en nuestra realidad, constituyendo la sociedad red, que es la sociedad en que vivimos”. Ver: Castells,M.:“Internet y la Sociedad Red”, in: ”la factoría – revista cuadrimestral“, Febrero-Septiembre 2001, nº14-15“ http://www.lafactoriaweb.com (verificado em 19.04.2006).

 

 

[4] A noção de uma cultura da tecnologia foi posta em relevo, dentre as publicações eletrônicas em língua espanhola, por Vicente Ortega, numa reflexão proposta a partir do mencionado livro de Arnold Pacey.  Segundo V. Ortega, trata-se ali de promover o conceito moderno de tecnologia, comovisión multidisciplinar” da qual são aspectos conjugados a comunicação (sem a qual não há cultura), a tecnologia e a sociedade. As relações entre tecnologias e sociedades dão lugar a um sistema combinando “tres ámbitos o aspectos: el científico-técnico, el organizacional y el cultural” (Ortega, 2004).

 

[5] Aproveito aqui os comentários de Sara Bizarro que se apóia, dentre outros, em Goodin, Robert E., Utilitarianism as a Public Philosophy, Cambridge University Press, 1995, e sustenta as seguintes conclusões: “nas discussões acerca do utilitarismo muitas vezes ataca-se exclusivamente a sua versão clássica ignorando o utilitarismo liberal de John Stuart Mill. O utilitarismo liberal das ações escapa aos paradoxos propostos pelos críticos do utilitarismo [não conseguiria evitar a ‘veneração das regras’ e deixaria de ser utilitarismo]. O utilitarismo das regras reduz-se de fato ao utilitarismo das acções, mas o utilitarismo liberal é um utilitarismo das acções capaz de bloquear os efeitos contra-intuitivos graças a sua vertente liberal”.

 

[6] Ao sucumbir ao neo-hegelianismo, Karl Mannheim e seus seguidores incorrem neste erro. Ver: Mannheim, 1972.

[7] Gurvitch, Georges (1894-1965): “Los Marcos Sociales Del Conocimiento”, Trad. Mário Giacchino, Monte Avila, Caracas, 1969, 289 pp. (1ªedição em Francês: Paris, Puf, 1966). Págs.145/6.