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(in English later) Sobre declarações como tipo de ação política 

Observações de alguns participantes da reunião em grupo, no dialogo do CI Ampliado de 16 de setembro, me relembraram o porque do CI do FSM ter respeitado, durante vinte anos, o item da Carta de Princípios segundo o qual ele não deve fazer declarações como CI. Permito-me completar e detalhar o que disse na reunião. 

Esse tipo de ato politico tem seus efeitos positivos – denuncia fatos ou situações que precisam se tornar mais conhecidos, estimula os militantes a agir visando esses fatos ou situações e mesmo orienta sua ação, compromete mais nessa ação quem propõe as declarações e quem as assina. Mas quando esse ato politico se reduz a promover ou assinar a declaração, ele carrega consigo tambem alguns riscos: o de já satisfazer o desejo de ação dos que propõem ou assinam a declaração, ou o de somente deixa-los mais satisfeitos com sua própria imagem pelo que foram capazes de fazer. Com isso muitas declarações não levam a mais nada. E por isso eu pessoalmente nunca me entusiasmei demais com propostas de ação politica desse tipo, que aliás tendem a se multiplicar diante de fatos ou situações exigindo posicionamentos.

Mas no âmbito do FSM a recusa que já dura vinte anos em fazer declarações enquanto CI – e, naturalmente, enquanto FSM mas tambem por outras razões – se deve à dificuldade com que, na prática, um movimento, organização ou rede de organizações consegue chegar a uma declaração que seja assinada e portanto assumida por todos. Mais ainda o será quanto esse conjunto de atores políticos se juntou num processo como o do FSM, cuja característica essencial (até agora pelo menos) é sua diversidade, em múltiplos aspectos, e o respeito à autonomia desses atores – o que o torna, como “espaço aberto”, radicalmente diferente tanto de partidos como de movimentos e organizações sociais em geral. 

Todos nós seguramente já vivemos experiências como a da discussão infindável de “declarações finais”, ás vezes em torno de uma simples vírgula, cuja posição na frase pode mudar completamente seu sentido. Frequentemente essa discussão dura horas e até mais de um dia, e pode chegar tanto à impossibilidade de se fazer um declaração comum como pode – o que é pior – dividir irremediavelmente aqueles que pretenderam se articular numa determinada ação. E com isso se desperdiça o tempo de reflexão coletiva que seria muito mais útil se dedicado a precisar bem os objetivos da ação e a discutir qual a melhor estratégia para realiza-los.

Eu mesmo presenciei pessoalmente uma dessas experiências quando a proposta do FSM – ainda era somente uma proposta – foi apresentada aos movimentos internacionais anti-globalização que se reuniram em Genebra depois de sua luta vitoriosa para bloquear a OMC em Seattle. Não participei da discussão do “documento final” desse encontro porque somente o assistia, como os demais companheiros brasileiros e franceses que foram até lá para propor a adesão - que recebemos - desses movimentos ao nosso projeto. Mas me lembro que acabaram postergando o fechamento do documento para a manhã do dia seguinte, depois de entrarem pela noite sem conseguir chegar a um acordo. E até tinham tido adotado a regra de não aceitar “emendas” de pessoas mas tão somente de organizações, para que as discutissem antes, internamente. 

A solução que adotamos no processo do FSM quanto a declarações - quando surgiu uma pressão para que fizéssemos “declarações” e aprovássemos “moções” sobre assuntos então candentes - não foi a de nos negarmos a isso mas a de estabelecer que tais declarações e moções deveriam ser apresentadas a todos os membros do CI, para serem assinadas por aqueles que o quisessem, com autonomia, como “membros do CI presentes na reunião daquela data”. É muito mais coerente com o respeito à diversidade no FSM e muito mais fácil do que a busca do consenso, procedimento decisório necessário para construir a unidade na diversidade em questões mais difíceis, mas muito trabalhoso. 

Mais recentemente eu mesmo propus uma declaração desse tipo no CI depois do FSM de Salvador, com um posicionamento forte sobre o assassinato da Marielle. Não me dei ao trabalho de verificar mas acredito que todos os “membros do CI” a assinaram, e ele foi divulgado com a força dos movimentos e organizações que representam.

Um abraço do Chico Whitaker