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Reflexões sobre o funcionamento do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial

Chico Whitaker

O Conselho Internacional do Fórum Social Mundial tem, na minha opinião, muita importância para o futuro do processo FSM. Preocupado com a confusão que por diferentes razões acabou acontecendo ao final de sua reunião de Monastir, ao voltar de lá comecei a sistematizar algumas ideias. Pouco depois recebi a síntese da reunião do Grupo que começou a discutir o futuro do CI, preparada por Gina e Wilhelmina. Não pude participar dessa reunião mas vi que alguns dos pontos nela levantados coincidiam com minhas preocupações. Como já tinha escrito alguma coisa, achei que devia continuar meu texto e enviá-lo ao Grupo como uma contribuição ao seu trabalho. O único problema é que, à medida que o escrevia, meu texto foi aumentando, até chegar a 14 páginas!... Mando-lhes assim mesmo esse texto. Vocês lhe darão a atenção que acharem que merece.

Mas quero deixar claro que são reflexões pessoais minhas, de minha inteira responsabilidade. Procurei ser sincero e objetivo – se isto é possível em discussões políticas... - mas naturalmente minha “objetividade” está marcada pelo que eu mesmo vi e senti na reunião de Monastir... Sei que corro o risco de ser mal compreendido, mas achei que valeria a pena correr esse risco.


 

 

A necessidade do Grupo de Trabalho sobre o futuro do CI

A reunião do CI em Monastir, acentuando uma tendência que já vinha se verificando, foi meio confusa nas plenárias de seus dois dias finais, depois do entusiasmo do primeiro dia. Na sua ultima sessão chegamos mesmo a limites próximos da implosão, quando tivemos que tomar a decisão - doloridamente discutida - sobre a continuidade do trabalho do Grupo de Enlace. O GE tinha dois terços de seus membros com mandatos já prorrogados e esgotados. A renovação de sua composição deveria ter ocorrido na reunião anterior do CI, realizada em Dhaka, no Bangladesh. Mas não o foi porque seu quorum estava bastante diminuído. Em Monastir era portanto absolutamente necessário proceder à escolha dos novos membros.

A decisão tomada acabou sendo menos radical que a proposta trazida pelo Grupo que tinha discutido o futuro do CI, mas deixou muitos mal-entendidos, frustrações, descontentamentos. As condições para aprofundar as questões foram pioradas pelo fato de vários membros do CI terem de se retirar em plena sessão para viajar a seus países de origem – inclusive depois de expressarem opiniões que provocavam contestações... Esgotou-se também o tempo de que se dispunha para contar com tradutores... Nem todos puderam falar o que gostariam.

Quem deixou de ir às ultimas reuniões do CI deve ter ficado assustado com o que viu. E para quem lá esteve pela primeira vez terá parecido impossível que se possa tomar decisões sensatas com essa forma de funcionamento do CI. Já ao longo do trabalho no dia anterior e na manhã desse dia, muitos mal-entendidos e insatisfações devem ter surgido na cabeça de muita gente, assim como fantasmas de manipulação e práticas antidemocráticas (outros devem ter achado que elas existem de fato...). Tornou-se assim mais do que evidente a necessidade de um Grupo de Trabalho sobre o futuro do CI, que pudesse dar continuidade ao que foi relatado por Gina e Wilhelmina, e tal proposta foi aprovada sem maiores discussões. E agora o que se vê – o que é um sinal de vitalidade do processo - é que há muita gente interessada em participar desse grupo.

Uma premissa

Alerto no entanto que, em minha opinião (e me parece que o Grupo Trabalho vai na mesma direção) precisamos encontrar saídas, sobre o futuro do CI, dentro da continuidade. Isto é, não se trata de virar tudo de ponta cabeça, e recomeçar do zero. O CI tem uma historia e uma experimentação muito rica, que não é o caso de deixar de lado para dar passos para a frente.

E dentro desta perspectiva considero que também o próprio processo do FSM tem que ter uma certa continuidade. Isto é, ele ainda tem muito a caminhar, dentro dos objetivos que vem se dando, como discutirei mais adiante. São objetivos que não estavam ainda inteiramente claros ao ser lançado, em 2001, mas foram se precisando no “caminho que se faz ao andar”.

Faço este alerta por que talvez não valha a pena que continuem a ler esta minha contribuição aqueles que consideram necessário recomeçar do zero o próprio processo do FSM e virar também a ele de ponta cabeça, deixando nas estantes da Historia sua Carta de Princípios e tudo que já nasceu com ele. Minhas elucubrações possivelmente só servirão para irritá-los, ou para que me considerem demasiadamente teimoso, quando o que desejo é simplesmente continuar a conversar...

Mas eu gostaria de passar logo à questão do funcionamento do CI, para que não se confunda com a discussão do futuro do próprio FSM, que é bem mais complexa.

A chamada “governança” do CI

O CI é uma experiência nova, assim como é novo todo o processo do FSM. Não temos, como os partidos, movimentos, associações e empresas, uma direção ou uma diretoria, um corpo diretivo, um conselho de administração, um birô político, nem mesmo uma executiva. Para complicar, adotamos o procedimento da decisão por consenso, que não é entendida por todos necessariamente da mesma forma – e certos tipos de consenso, como os que se adotam por exemplo nas Nações Unidas, são uma bela fachada pretensamente democrática de sistemas de dominação. Ou seja, estamos inventando, dentro da construção de uma nova cultura política, que é um objetivo que está no âmago do FSM.

Ai pelas tantas, creio que em Parma, na Itália, se usou, pela primeira vez na nossa reflexão sobre o CI, a palavra “governança”. Eu não digeri bem esta palavra, naquela ocasião. E até agora ela não me parece adequada ao “espírito” do processo FSM, por trazer consigo a imagem da pirâmide de poder, necessária em todo “governo”. Oriunda do meio empresarial, parte da necessidade de se ter um comando bem definido que não deixe confundir funções nem perder de vista as metas. E foi inventada porque as empresas nos dias de hoje precisam parecer democráticas e participativas (embora não possam sê-lo, até as ultimas consequências, na competição impiedosa do sistema capitalista). Mas se no processo essencialmente horizontal do FSM não aceitamos que poderes ocultos o governem, também dentro do CI, que na concepção empresarial estaria encarregado de sua “governança” - usando a contragosto este termo - isto também não deveria acontecer.

Mas temos efetivamente que enfrentar o problema de como nos organizarmos para trabalharmos eficazmente juntos. Nossas reuniões não podem durar mais do que três ou quatro dias e nelas temos que tomar decisões objetivas. Usando conceitos que não correspondam a estruturas piramidais e respeitem a horizontalidade própria ao FSM, talvez devamos falar em autogoverno, apoiado na lógica das redes. Trata-se evidentemente de um desafio, como toda experiência de autogestão imersa num mundo hierarquizado e competitivo, movido por uma noção de eficiência nascida da lógica capitalista. Mas há experiências de autogestão que deram certo, e se constata um uso cada vez maior da organização em rede em nossas ações.

As dificuldades que vivemos nas sessões plenárias do ultimo CI são, na verdade, o preço que pagamos pela abertura e horizontalidade que queremos assegurar ao processo do FSM, como pude lembrar em algumas palavras que disse na última sessão. Assim como é o preço que pagamos pela decisão de não “votar” mas decidir por consenso. Mas abertura e horizontalidade não significam ausência de regras, assim como consenso não significa unanimidade acrítica, mas aceitação unânime e consciente da decisão que pareça ser a melhor para continuar a luta, ainda que não se concorde inteiramente com ela.

A abertura e a horizontalidade

Quanto à abertura e à horizontalidade, talvez o que estejamos precisando é definir novamente pelo menos algumas poucas regras, democrática e claramente aceitas por todos. Não um “estatuto” ou um “regimento interno”, como o que já pensamos anteriormente e que até um Grupo de Trabalho (como sempre) tentou redigir, felizmente abandonado no CI de Miami. Mas algumas regras mínimas, flexíveis segundo o bom senso ditado pelo interesse comum de se avançar na compreensão das questões e na tomada de boas decisões. 

Já tínhamos adotado algumas dessas regras mas as fomos deixando de lado progressivamente. Como por exemplo a de nos sentarmos, em nossas reuniões, num grande circulo (ou mais exatamente retângulo...), em que a primeira fileira só podia ser ocupada pelos membros efetivos do CI. Ou melhor, pelos representantes (somente um) de cada organização que integra o CI, os assim chamados “titulares”. Numa segunda fileira sentavam-se os “suplentes” dos titulares. E na 3ª, 4ª, e a toda a volta observadores devidamente credenciados... Parece incrível mas é verdade...

Nossa preocupação de abertura – assim como transparência e participação - nos fez também abrir cada vez mais nossas reuniões para todos os observadores que o quisessem, até da imprensa (cuja presença no inicio procurávamos limitar ou controlar). Inclusive consideramos útil chamar o máximo possível de observadores (para aumentar o efeito positivo que as reuniões do CI podem ter nos países em que se realizam)... Hoje, quase não sabemos quem é quem em nossas reuniões. Presenças totalmente novas, e até de não integrantes do CI, sentam-se livremente na primeira fileira de nossos imensos retângulos, com mais cadeiras do que o numero de membros do CI presentes...

O direito à palavra seguiu a mesma tendência. No inicio nem o suplente de representante podia falar, a não ser que tomasse o lugar do representante. Hoje ouvimos discursos (que chegam a ser vibrantes e provocar aplausos) de pessoas que não sabemos exatamente de onde vem ou que apenas começam a entrar no processo do FSM, com uma primeira participação exatamente naquela reunião do CI... Como ninguém está a fim de fazer reclamações, resurgem até cacoetes da esquerda estudantil, em que diversos membros de uma mesma organização se distribuem pela sala para repetirem o mesmo discurso, quando lhes é dada a palavra (sempre assegurada a todos), e receberem evidentemente os apoios dos seus companheiros... Pode ser simpático, mas a forma e o momento são descabidos. E se perde um tempo precioso...

Nada impede que os “facilitadores” do debate deem a palavra até a observadores. Assim como será importante que pessoas vindas de novos movimentos (como ocorre agora com os “indignados”, “occupy”, etc) possam trazer suas opiniões à discussão. Mas seriam talvez necessárias pelo menos algumas regrazinhas, e o acordo dos membros do CI a cada vez que fosse aconselhável desrespeitar a regra.

O sistema de decisões por consenso

O sistema do consenso para a tomada de decisões também cria dificuldades porque prolonga às vezes demais as discussões. Isto aflige muita gente, acostumada em suas organizações com decisões tomadas rápida e inequivocamente, na base do voto – sistema que permite avançar porque não se pode voltar atrás, assunto votado é assunto terminado...

Creio que estamos todos de acordo em que um dos objetivos do processo do FSM, que abordarei mais adiante, é a construção de uma nova cultura política. Ora, a decisão por consenso é talvez um dos maiores desafios na realização deste objetivo. Já vivemos no entanto, na história do CI, situações extremamente difíceis, com mais de cem organizações participantes, mas conseguimos nos sair. Sem entrar nos detalhes, e sem falar da maratona pela madrugada adentro, em Berlim, para decidir se o FSM de 2009 deveria se realizar em Belém, lembro-me ainda de dois casos exemplares: em 2003 em Porto Alegre quando decidimos que o FSM de 2004 seria realizado na India, e em 2006, em Nairobi, quando uma entidade basca pedia sua entrada no CI. Neste segundo caso nem pudemos tomar a decisão, pois havia um participante que se opunha frontalmente à aceitação dessa candidatura e se retiraria do CI se ela fosse aceita. Tivemos que postergar a decisão, mas foi constituído um Grupo de Trabalho (como sempre, e também como sempre aberto a todos) que aprofundou a discussão sobre as divergências existentes e levou uma solução à reunião seguinte.

Na sessão final do CI de Monastir também relembrei rapidamente que se alguém não concorda com uma determinada decisão proposta (uma pessoa que seja), no sistema do consenso a discussão sobre ela tem que continuar até que se chegue a uma formulação aceitável para todos. Não se trata de se “abster de votar”, como propôs uma de nossas companheiras quando tratávamos da continuidade do Grupo de Enlace. Trata-se de chegar ao acordo que permita que a união seja mantida.

A discussão se alonga, suspensões da sessão podem se tornar necessárias, e até conversas de corredores ou constituição de grupos formais ou informais. Há gente que não gosta disso porque vê tais procedimentos como conchavos para depois impor ou manipular decisões. Mas às vezes só nestas conversas paralelas, sem auditórios, é que se consegue construir acordos, superando preconceitos, mal-entendidos ou julgamentos indevidos de intenções. E ao levarmos transparentemente as novas propostas à consideração do plenário, na verdade nos livramos é da maldição da esquerda: não nos dividimos, como nela ocorre frequentemente com o desligamento das minorias vencidas na contagem de votos, e com isso ela se enfraquece... Este método tem também uma grande vantagem pedagógica: aprendemos a nos abrir aos argumentos dos que divergem de nós, e a substituir a disputa pela disposição de ouvir.

Neste ponto da reflexão talvez valha a pena pensar numa nova regra no funcionamento do CI, ou num novo compromisso dos seus membros: para evitar situações como as vividas na última sessão de Monastir, seus membros deveriam procurar reservar voos de volta que não os obriguem a deixar as reuniões exatamente quando se está procurando chegar a um consenso difícil...

Obviamente só podemos pretender construir consensos entre os que se situam no nosso lado. Com aqueles que dominam o mundo não temos alternativa senão a de disputar, porque nossa lógica é inconciliável com a deles, que se pauta pela busca do lucro como motor da atividade humana. Mas o que o processo do FSM mais precisa disputar com eles é precisamente a consciência dos cidadãos e cidadãs do mundo. E nesta luta só teremos sucesso se dermos uma demonstração, nas relações de não-dominação e respeito à diversidade que tivermos entre nós mesmos, de que “é possível outra cultura política” que constrói a união e não a divisão e o enfrentamento. Ou seja, se formos capazes de seguir o princípio gandhiano a que muitos de nós se referem: vivermos dentro de nós mesmos a mudança que queremos para o mundo. Se esta minha contribuição ao Grupo de Trabalho sobre o futuro do CI tiver alguma utilidade, espero que seja porque ajudou a manter a regra do consenso nas decisões do CI...

Todas estas questões dizem respeito ao simples funcionamento de uma reunião do CI. Mas é preciso também pensar na composição do CI e na própria necessidade e objetivos de sua existência.

Quem participa do CI

Quanto à participação no CI, já existem regras mais ou menos consolidadas, que não detalharei aqui mas que a Comissão de Expansão já definiu – com a aprovação do CI - e vinha usando sem maiores problemas, para analisar e apresentar as candidaturas de adesão. Mas digo “vinha usando” porque aqui também o trem do CI deu uma derrapada ultimamente. Atingida pela mesma doença desarticuladora que afetou todas as demais Comissões, a de Expansão parece ter dado uma parada nesta sua tarefa (que não é a única nem a principal). Pelo menos é o que se pode concluir por não ter levado ao CI de Monastir (pelo menos que eu saiba) nenhum parecer sobre novas candidaturas. E há candidaturas que há bom tempo esperam decisões, o que também contribui para criar insatisfações que nos enfraquecem. Mas talvez consigamos debelar esta doença com o Grupo que se criou sobre o futuro do CI. Só posso desejar boa convalescença à Comissão de Expansão.

A composição do CI constitui atualmente um problema, já que certo número de organizações praticamente o abandonou. Sobre isto já se cogitou de verificar pelo menos a frequência de presença das organizações, e até de afastar as que sumiram (depois de devidamente consultadas).

Problema ainda maior talvez seja a presença somente burocrática das organizações. Isto é, enviar representantes que garantem a presença da organização mas não são investidos do poder político que permita ao CI tomar decisões que serão efetivamente levadas em conta na vida da organização, com toda a profundidade necessária. Isto certamente não ocorre com todas as organizações, mas por pouco que ocorra já baixa o nível de responsabilidade política do CI.

É certo por outro lado que se isto se tornar uma tendência, o CI passará a ser composto de “funcionários” (os famosos assessores...), que, por melhor preparados (ou “brifados”) que sejam, não têm a autonomia de decisão que devem ter os dirigentes mandatados.

Mas de fato o problema que está por trás desses fenômenos é outro: qual o interesse das organizações de participarem do CI? A resposta é uma decorrência da resposta a outra questão mais profunda: qual o interesse das organizações em participarem do processo do FSM?  

A discussão sobre esta segunda questão não entra no escopo do Grupo de Trabalho sobre o futuro do CI (a não ser que considere necessário também nela investir; eu mesmo a abordarei rapidamente mais adiante). Mas na raiz do interesse em participar do CI se encontra um mal-entendido sobre sua função e seu poder, que eu já gostaria de comentar.

Por que participar do CI?

Como trazemos necessariamente conosco a memória do mundo em que desenvolvemos nossas práticas políticas, o CI foi (e ainda é) visto por muitos como o lócus do poder no FSM. Uma espécie de birô político todo poderoso. Entrar nele passou portanto a ser essencial, se se quisesse ter influência nos rumos do processo (que se iniciava). Ou então simplesmente para poder ostentar essa participação em outras competições.

Para esse segundo objetivo - o da imagem da organização - uma participação burocrática era suficiente, ainda que custosa financeiramente (o que reforçou naturalmente á ideia de um FSM somente a cada dois anos e portanto menos reuniões do CI). Mas quanto ao primeiro objetivo (de participar do “poder” dentro do FSM), a vida real do CI frustrou muita gente e tornou essa participação menos atraente. Ele não mandava nos FSM. Os FSM eram montados pelas organizações dos países que os realizavam. Ora, tendo prevalecido o sistema de atividades auto-organizadas e o principio da Carta do FSM relativo à inexistência de uma declaração final conclusiva e mobilizadora, tornava-se difícil “dirigir” o processo. Por outro lado, passou-se a adotar no processo do FSM o conceito de “facilitação” para renomear a função dos “organizadores” dos Fóruns (para se enfrentar a tendência à centralização e ao fechamento). Ora, isto minou as práticas políticas usuais.

Seria o caso de tentarmos recuperar presenças de dirigentes mandatados nas reuniões do CI? A mim não me parece que este seja o melhor caminho, nem mesmo talvez um caminho possível. Na prática as novas redes e alianças que nasceram nos FSM satisfizeram (até certo ponto), a necessidade de reforçar a luta de muitas organizações e movimentos. E essas novas redes e alianças passaram a exigir suas próprias reuniões internacionais, para o desenvolvimento das ações que decidiam.

Isto é na verdade muito positivo, e ajuda na realização dos objetivos do FSM. Mas a consequência é que passou a significar, para os “dirigentes”, muito mais solicitações de presença com mandato político: as reuniões “fora” do FSM se somavam às reuniões do CI. Como, numa certa medida, para eles o papel do FSM pareceria ter se esgotado, as ações (inclusive internacionais) de suas próprias organizações passaram a ser o mais importante.

E de fato é pela ação efetiva das organizações e movimentos sociais que vamos mudando o mundo. Mas é uma pena deixar de participar do processo FSM, por força dessa ampliação das solicitações, porque haveria muito ainda a caminhar quanto a novas alianças e redes. Estas poderiam se tornar realmente poderosas, e planetárias, se o processo do FSM pudesse se expandir muito mais para todo o mundo e “baixasse” ainda mais para os níveis nacionais e locais. Talvez tenhamos portanto que encontrar saídas mais heterodoxas para os impasses que enfrentamos agora. Para tentar achar essas saídas recorro de novo à história do CI.

Qual o papel que foi sendo definido para o CI no processo do FSM?

O CI foi criado porque o Comitê Organizador do primeiro FSM, constituído por organizações e movimentos sociais brasileiros, tomou consciência de que tinha deslanchado, com sua iniciativa, um processo internacional com vocação efetivamente mundial. E que, ainda que fosse realizar o segundo FSM também no Brasil, precisava ser encaminhada a realização de Fóruns Sociais Mundiais em outros países e continentes, o que um Comitê Organizador somente brasileiro não teria condições de viabilizar.

Os organizadores brasileiros do FSM já tinham optado, nesse momento da história da sua iniciativa, por uma lógica diferente do Fórum Econômico Mundial de Davos. Sendo uma contestação e uma alternativa a Davos, o FSM não poderia, ele também, tomar a forma de uma empresa internacional promotora de eventos (lucrativa como tudo que se faz dentro da lógica capitalista). Os organizadores brasileiros optaram então por estimular a realização de eventos lá onde organizações e movimentos sociais se dispusessem a assumir esse trabalho, autonomamente, ainda que pudessem contar se necessário com a experiência dos brasileiros.

Assim, o que os brasileiros necessitavam para que o processo continuasse fora do Brasil era um apoio internacional lá onde fossem se realizar outros Fóruns, e não uma direção empresarial de eventos. Foi assim muito naturalmente que se criou, para esse apoio, não um Comitê Organizador Internacional mas sim um Conselho Internacional - já que a palavra Comitê designa algo mais diretamente executivo, enquanto um Conselho, pelo menos em princípio, somente aconselha...

Ou seja, a filosofia organizativa adotada era a da não-diretividade e a da auto-gestão, uma opção que talvez tivesse sofrido a influência local do processo de reconstrução democrática que o Brasil vinha vivendo naqueles anos, e no qual pensamentos como o de Paulo Freire e a prática de formação de redes tinham um lugar importante. Vale a pena lembrar que na mesma reunião em que o Conselho foi constituído se discutiu e se aprovou a Carta de Princípios do FSM, proposta pelo Comitê Organizador brasileiro com base na experiência e nas orientações adotadas no primeiro FSM, realizado alguns meses antes. A adoção da Carta foi portanto a primeira decisão concreta tomada pelo Conselho, e ela consolida exatamente a mesma filosofia da horizontalidade, participação aberta, não-diretividade e auto-gestão. E note-se que o Comitê organizador brasileiro já tinha optado, anteriormente à essa reunião, pelas decisões por consenso...

Outras decisões foram tomadas, como os historiadores dirão no futuro – se encontrarem atas e relatos... Mas uma decisão bem importante, na perspectiva da internacionalização do processo, foi a de realizar a segunda reunião do CI ainda em 2001 mas em Dakar, Senegal, ou seja, noutro continente.

A primeira função exercida pelo CI

Em Dakar várias coisas foram sendo decididas como por exemplo, pela primeira vez, que o CI não poderia tomar posições políticas enquanto CI, como se estabelecia para o próprio FSM na Carta de Princípios. Mas, mais importante para o processo FSM foi outra decisão: diante do fato das organizações africanas ali presentes considerarem prematuro realizar um FSM na África em 2003, decidiu-se sondar organizações indianas para que esse terceiro FSM se realizasse na Índia. O CI conseguiu recursos para que alguns de seus membros fossem à Índia, ainda em 2001 (no mês seguinte ao da reunião), com a missão de discutir essa possibilidade com organizações e movimentos sociais indianos.[1]

Disso se deduz que o primeiro papel claramente preenchido pelo CI foi o de promover a expansão do processo (pela realização, nessa fase inicial, de eventos mundiais fora do Brasil). Suas reuniões por sua vez começaram a tomar ritmo: pelo menos uma reunião antes ou depois de cada FSM que se realizasse. E o número de seus membros foi aumentando progressivamente, fazendo com que o desafio de seu modo de funcionamento começasse a aparecer.

A necessidade de um melhor auto-governo de suas reuniões logo levou à proposta de formular regimentos internos, a que já me referi. Mas como isto burocratizaria e enrijeceria inteiramente o processo que estava sendo vivido (e inventado), optou-se por uma “mudança copernicana” na maneira de enfrentar o problema (expressão usada por um dos membros do Grupo de Trabalho encarregado da proposta de regimento). Tal mudança consistiu muito simplesmente em passar a organizar o trabalho do CI em Comissões. Foi uma decisão tomada na reunião de Miami, em 2003, onde o CI estava também cumprindo sua função de promotor da expansão, ao realizar suas reuniões cada vez num continente. Com essa decisão as próprias funções do CI ficaram mais claras

Apesar do risco de ser visto como demasiado simplificador, em minha opinião a fórmula encontrada em Miami (em lugar de regimentos), nos encaminharia mais facilmente, também agora, para a solução dos problemas atuais de clarificação de objetivos e de autogoverno. Ela de fato organiza o quadro básico das funções que o CI deve desempenhar como um Conselho que auxilia o processo do FSM.

O conjunto de funções exercidas pelo CI

Concretizando as coisas, seria útil relembrar quais foram as Comissões criadas em Miami e qual o conteúdo do seu trabalho, na percepção que eu tenho das mesmas:

- “expansão”, função que o CI como um todo já vinha cumprindo desde o inicio do processo[2];

- “metodologia”, essencial na medida em que o modo de organizar os Fóruns – na horizontalidade e na diversidade - é o que, no respeito aos princípios da Carta do FSM, facilita a discussão e o aprendizado mútuos, o diálogo efetivo entre os participantes, a identificação de convergências e solidariedades, a proposição de alternativas e ações concretas;

- “conteúdos”, para que a memória de tudo que se discutisse e se propusesse nos Fóruns não se perdesse e fosse mais difundido para seus participantes, mas mais ainda fora do território dos Fóruns (de fato esse Comissão nunca se implantou, por ter sido absorvida, equivocadamente a meu ver, pela comissão de metodologia)[3];

- “estratégia”, voltada à análise e à avaliação das estratégias usadas pelo sistema dominante e daquelas usadas, para superá-lo, pelos movimentos e organizações sociais, assim como para a estratégia de expansão, em todos os níveis, do processo do FSM (eventos e articulações entre eventos), e o uso de novidades como a extensão de suas discussões pela internet;

- “comunicação”, que se refere tanto à comunicação entre participantes dos Fóruns como especialmente à comunicação com o mundo, para que este receba de fato a mensagem de esperança do processo do FSM, e acredite que outro mundo é realmente possível e o deseje efetivamente[4];

- e, por ultimo mas não menos importante, “recursos”, já que a ação que resulta do processo é assumida pelas organizações e movimentos sociais que dele participam, mas é preciso fazer frente aos custos de criação dos espaços abertos que tornam possível a discussão (em varias línguas) entre eles  e sua articulação[5].  

O CI poderia muito bem cumprir todas essas funções, hoje, ainda através de suas Comissões, compostas por seus membros segundo a opção de cada um (que foi o modo como se organizaram em Miami). E Comissões novas poderiam ser criadas, como já chegou a ser proposto. E com isso o CI conservaria seu caráter de apoio aos eventos, encontros, articulações e lutas que fossem sendo auto-organizados, sem pretender dirigi-los ou comandá-los. Assim como poderia tomar iniciativas próprias para melhorar a qualidade e eficiência de sua ajuda, para que o processo cumprisse cada vez efetivamente seus objetivos.

Fica bem evidente, pela enumeração das funções das Comissões, que elas poderiam desenvolver seus trabalhos de forma articulada umas com as outras (com as consequentes articulações entre organizações e movimentos sociais cujos representantes as integrassem). E com isso mostrariam concretamente, dentro do processo FSM, como é possível realizar outro dos objetivos desse processo: adensar horizontalmente o tecido de articulação interna da sociedade civil, na luta pelo “outro mundo”.

Nota 1: Essa sondagem, e visitas posteriores de outros membros do CI à Índia, resultaram numa primeira experiência de Fórum Social regional naquele país em 2003 em Hyderabad, para depois, em 2004, realizar-se em Mumbai o primeiro FSM fora do Brasil.

Nota 2: Hoje se vê, pela nossa prática, que uma tal expansão poderia ser consistir em mais do que identificar onde já estão existindo processos sociais importantes, para estimulá-los com a realização de Fóruns Sociais Mundiais, como ocorreu com a decisão do CI, em 2001, de propor a organização de um evento mundial na Índia. Seria uma função da Comissão de expansão também identificar, como aconteceu mais recentemente com os países árabes, onde estão ocorrendo processos de liberação que os Fóruns poderiam alimentar e, alem disso, onde seria estratégico (pela análise da Comissão de Estratégia) que tais processos fossem “provocados“ por Fóruns que neles se realizassem.

Nota 3 : Essa comissão, se tivesse existido, seguramente teria tentado também “sistematizar” os “resultados” dos  Fóruns. E isto nos teria permitido atender melhor ao que hoje nos solicitam de todos os lados: que “resultados” tem o FSM? Assim como teria sido possível identificar e clarificar as alternativas que vão surgindo dentro do processo FSM, rumo ao “outro mundo possível”.

Rumo a uma segunda “mudança copernicana”?

Essas Comissões funcionaram inicialmente mas pouco a pouco muitas delas foram se desfazendo e até desaparecendo. Por quê? Na minha opinião isto ocorreu por duas razões: de um lado porque esse trabalho exige continuidade e disponibilidade de tempo, e os membros do CI são pessoas bastante ocupadas pela ação de suas próprias organizações; e de outro porque, por umas e outras razões, também foram minguando os recursos para financiar, alem daqueles exigidos para a organização dos próprios fóruns, reuniões presenciais eventualmente necessárias.

Teríamos então que ter gente trabalhando “profissionalmente” nas Comissões, ou pelo menos sendo remunerada para nelas trabalhar? Essa tentação chegou a fazer um pequeno caminho dentro da Comissão de Comunicação, que propôs algo parecido no CI de Berlim... A pouca clareza na tomada de decisões do CI chegou a criar mal-entendidos: houve quem considerasse que o CI tinha aprovado essa proposta, o que inchava o orçamento dessa Comissão desproporcionalmente em relação ao das outras comissões, no orçamento geral do processo.

Esta “profissionalização” das Comissões do CI seria no entanto, em minha opinião, a pior das soluções. Faríamos agora o que decidimos não fazer depois do primeiro FSM: constituir uma “empresa”, com seu corpo de funcionários; só que agora com muito mais pretensões do que simplesmente promover eventos...

Talvez fosse o caso então de realizar uma segunda “mudança copernicana” em nossas decisões sobre o funcionamento do CI. Por exemplo combinando duas regras: de um lado os membros do CI seriam “liberados” por seus movimentos e organizações (ou seja, por eles “financiados”) para dedicar mais tempo às suas funções no CI (e portanto ao trabalho exigido pelas suas diferentes Comissões); de outro lado, eles o fariam por períodos de tempo limitados (dois ou três anos, por exemplo), com rodízios internos às suas próprias organizações.

Não resolveríamos por certo a questão do peso político do representante, no CI, de cada organização ou movimento. Mas pelo menos o representante enviado não cairia de paraquedas nas reuniões do CI. E já poderia trazer posições e decisões de seus respectivos movimentos e organizações para as Comissões de que participasse, e em seguida nas plenárias do CI.

Por outro lado, a limitação de seus mandatos, no tempo, propiciaria uma renovação contínua da participação de cada organização e movimento no CI e portanto no processo FSM. E permitiria que fosse penetrando, dentro deles, a experimentação de uma nova cultura política, objetivo tão central nesse processo[6].

Com as Comissões funcionando desse modo, caberia muito bem construir orçamentos autogeridos por elas mesmas só para seu trabalho, para que os membros de cada Comissão pudessem viajar (por exemplo para fazer os contatos da Comissão de Expansão em diferentes países), participar de Fóruns regionais ou locais para alimentar a reflexão sobre a metodologia dos encontros, ter reuniões presenciais mais frequentemente, fazer publicações, montar sites e blogs e mantê-los ativos, realizar pesquisas e levantamentos, organizar seminários para analisar experiências e resultados, seguir mais de perto iniciativas inovadoras, etc, etc.

Tais orçamentos poderiam talvez ser mais facilmente financiados através de contribuições das próprias organizações e movimentos membros do CI, assim como dos participantes em geral do processo, que se contam atualmente em muitas centenas de milhares. Obviamente, tudo transparentemente contabilizado e apresentado no site principal do FSM.

Nota 4 Essa comunicação não deveria ser assumida, na minha opinião, por um corpo de comunicadores profissionais contratados pelo CI mas pelos próprios movimentos e organizações sociais que participam do processo, usando os recursos de que dispõem para isso e articulados uns com os outros, a partir dos resultados do trabalho da comissão de conteúdos, se ela viesse a ser constituída.

Nota 5 Há também o custo das reuniões para prepará-los, inclusive do CI e das próprias comissões, e é preciso prever algum tipo de ajuda às organizações e movimentos que não dispõem de recursos para viajar até onde se abrem os espaços do FSM, mais ainda quando são de nível mundial.

Programação das reuniões do CI

Se déssemos toda essa importância ao trabalho das Comissões, não se poderia deixar que suas reuniões se fizessem somente em alguma sobra de tempo das reuniões do CI. Elas teriam que se tornar uma atividade central nessas reuniões, levando para o plenário propostas concretas.

De uns tempos para cá temos consagrado o primeiro dia do CI a análises de conjuntura, preparadas pela Comissão de Estratégia. Seria nesse tempo que o CI como um todo deveria intercambiar sobre o que se passa no mundo, sobre as novas ações políticas, iniciativas e experiências que estão surgindo, sobre as atividades dos diferentes movimentos e organizações sociais, sobre as possibilidades que estão se abrindo de expansão geográfica e temática do processo. Nessa etapa do trabalho do CI a palavra poderia ser dada também a convidados especiais e até a observadores, respeitada sua prévia inscrição como tais.

A realidade do país em que o CI se reúna poderia ser apresentada pelo menos durante a tarde e a noite anteriores a esse primeiro dia, para que ela pudesse iluminar de alguma forma toda a reunião – o que significaria aumentar sua duração efetiva, com a presença de todos os membros do CI. Neste primeiro período de tempo, no entanto, a eles caberia somente ouvir, perguntar e procurar entender, sem tomar decisões. O protagonismo caberia inteiramente às organizações e movimentos que estariam acolhendo a reunião do CI[7].

O segundo dia (manhã, tarde e noite) deveria ser reservado inteiramente a reuniões de Comissões e eventuais Grupos de Trabalho cuja necessidade surgisse nas discussões do primeiro dia, inclusive a partir do que tenha sido ouvido na apresentação da realidade do país acolhedor. E cada Comissão e Grupo apresentaria no terceiro dia suas conclusões e suas propostas para decisão do CI, não através de “relatórios” burocráticos e maçantes, mas indicando o que considerariam que as organizações e movimentos sociais poderiam ou deveriam assumir.

Como as reuniões são abertas, cada Comissão administraria, da forma que decidisse, a participação nas mesmas de pessoas dispostas a ajuda-la, inscritas como observadores ou convidadas pela Comissão. Se houvesse seis ou até oito apresentações e discussões desse tipo, cada uma contaria com pelo menos uma hora de trabalho de inteligência coletiva em torno dela, o que seria talvez suficiente se a palavra fosse concedida – flexivelmente, bem entendido – somente aos membros titulares do CI, como fazíamos nos seus inícios. Os observadores e suplentes de representantes teriam tido a possibilidade de participar das discussões do primeiro dia e durante o trabalho das Comissões e Grupos.

6nota 6  A limitação do número de mandatos, em democracias representativas, é aliás proposta que está surgindo em muitos lugares, como no Brasil, porque combate a transformação da representação política em profissão e a sua burocratização, e renova essa representação. 

O Grupo de Enlace

Haveria ainda um ultimo ponto a discutir quanto ao funcionamento do CI - o do Grupo de Enlace – que mereceu uma atenção particularmente complicada no CI de Monastir, na ultima sessão de seu ultimo dia, como já lembrei no inicio deste texto. Apesar de ser uma questão que se tornou delicada, terei que abordá-lo muito rapidamente, para não alongar demais este texto.

Como ocorreu com o CI, a criação do GE não foi bem compreendida por todos, apesar do documento sobre seu caráter, objetivos e funcionamento ter levado mais de um ano para ser redigido, e ter sido discutido em mais de uma reunião do CI. Se com o CI estamos ainda tendo que inventar, isso é ainda mais necessário com um Grupo que pretenda, por assim dizer, “secretariá-lo” (quando na cultura em que vivemos o posto de Secretario Geral é de fato o posto mais poderoso...).

Depois de duas tentativas frustradas de criar algo como um secretariado internacional, primeiro bi-nacional (Brasil e India) e depois tri-nacional (Brasil, India e Quênia), o que se pretendeu com o GE foi superar para nós mesmos a impressão de que os “brasileiros” não queriam “largar” uma suposta condução do processo, através da manutenção de um “secretariado” (do processo ou do CI) sob seu controle.

O documento sobre o GE previa seus objetivos e funções, rodízio de seus membros, etc. O Secretariado existente no Brasil passou a ser um Secretariado do GE, embora na prática tenha continuado a ajudar a comunicação interna do CI e a assessorar a organização dos seus encontros (e, em certos aspectos, até dos próprios FSM...), e tenha mantido a função de alimentar o site geral do processo e redigir boletins de noticias.

Acentuou-se, nesse documento, que o GE não criava um centro de poder no processo do FSM, porque existia somente para ajudar o “enlace” entre os membros do CI, Comissões, etc. Mas os modelos de sempre do mundo velho prevaleceram de novo em muitas cabeças, que viram naquele grupo um núcleo efetivo de poder. Como no processo do FSM a participação dos interessados é sempre aberta, até o numero de seus membros ficou excessivo, dificultando um trabalho mais eficiente, mais ainda quando passou a se “reunir” somente pela internet. E vários dos seus membros nem conseguiram participar efetivamente do seu trabalho.

Com o desmantelamento progressivo das Comissões, os “enlaces” que o GE teria que promover e assegurar se tornaram objetivos teóricos, e pouco a pouco ele se reduziu à função de propor a agenda do CI. E, durante o mesmo, à de distribuir a função de facilitação das suas sessões entre seus membros, com a ajuda de outros membros do CI por eles escolhidos.

Pouco antes de Monastir surgira uma proposta de substituir um GE permanente, com membros que se renovam, por um GE adhoc, formado em cada reunião do CI para preparar a próxima, assumindo-se portanto que sua função, se ele continuasse a existir, seria somente a de prepará-las e ajudar a que funcionassem.

Essa proposta circulara de forma limitada entre membros do CI, mas não me lembro de ter sido formulada de forma precisa na sessão final, pelas razões que lembrei acima. Foi então somente constituído um Grupo de Trabalho, composto pelos membros do GE com mandatos em vigência, e pelos membros do CI que para isso se inscreveram, para preparar a agenda do próximo CI, que se reunirá por ocasião do FSM 2013. E a questão do GE enquanto tal entrou na agenda do Grupo constituído para discutir o futuro do CI.

Mas essa questão exige a meu ver uma reflexão atenta. Especialmente se for adotada a opção de dar às Comissões um papel central no CI. Muitas das articulações que sugeri nas notas de rodapé, quando tratei do papel das Comissões, talvez só pudessem ser estimuladas por um Grupo de Enlace mais contínuo, que não seria uma Comissão mas acompanharia o trabalho de todas e as articularia entre si.

Fico no entanto por aqui, no que concerne ao funcionamento do CI, para não me estender demais, na certeza de que o Grupo de Trabalho sobre o seu futuro encontrará boas saídas também para esta questão.

 

Nota 7 Na reunião de Monastir aconteceram as duas coisas num só dia, já que a realidade dos desafios e aspirações que a “primavera árabe” levanta estavam extremamente presentes, a partir inclusive das diversas atividades que aconteceram antes da reunião do CI – a própria reunião do CI fazendo parte do que se chamou de assembleia preparatória do FSM 2013 na Tunísia. Com isso uma atmosfera de entusiasmo tomou conta do primeiro dia de reunião propriamente do CI, e seu clima mais se parecia ao de vibrantes manifestações políticas.

 

Mas, e a mudança do mundo?

A esta altura de minha reflexão, muitos dos que tiveram a paciência de me ler até aqui devem estar dizendo: o que se cobra do processo do FSM não é o funcionamento mais ou menos democrático, eficaz e transparente de suas instâncias deliberativas, mas sim as ações que dele resultam para chegarmos efetivamente ao “outro mundo possível”... Bastaria então resolver a questão do funcionamento do CI para que o processo do FSM levasse automaticamente à ação transformadora propriamente dita?

Por outro lado nós mesmos poderíamos perguntar: nós que participamos dos eventos e articulações criados no processo do FSM estaríamos podendo viver experiências de relacionamento político mais humanizado, convencendo-nos de que convívios respeitosos são possíveis na ação política, descobrindo a importância da ação de tantos que nem conhecíamos e de outros com os quais competíamos, construindo articulações horizontais mais democráticas que as tradicionais pirâmides, como se o processo do FSM se esgotasse nisso? Ainda que tudo isso seja válido e necessário – e até mesmo prazeroso – o processo do FSM não estaria se voltando para dentro de si mesmo – como acontece em muitas organizações humanas - como se o mundo (lá fora) não existisse?

Conviria talvez retomar um pouco mais em detalhe os objetivos do FSM na construção do “outro mundo possível”, e o ponto em que estamos de sua concretização. E depois situar quem são os sujeitos da ação transformadora que o FSM quer estimular.

O objetivo geral do processo do FSM

Sabemos todos que o objetivo geral (e final) do processo do FSM, segundo o primeiro item de sua Carta de Princípios (opor-se ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pe­lo capital e por qualquer forma de imperialismo, pela construção de uma sociedade planetária orientada a uma relação fecunda entre os seres humanos e destes com a Terra) é efetivamente “mudar o mundo” ou, mais modestamente, contribuir para essa mudança. Ele se insere portanto no vasto esforço que a humanidade vem fazendo há mais de um século pela superação do capitalismo.

 

Sabemos igualmente que essa “mudança” implica em variadas e profundas “mudanças” em muitos setores e aspectos da vida e das instituições. E que elas só acontecerão pela ação conjunta de diferentes atores políticos, cada um agindo a seu tempo e no seu papel: partidos democráticos, governos democraticamente eleitos e também a “sociedade civil” – e esta é a novidade realçada pelo processo do FSM. Esse novo “ator” surgiu nas ultimas décadas, e é constituído por organizações e movimentos sociais criados e integrados por pessoas que agem como cidadãos e cidadãs – incluindo até os que se organizam em “empresas” (não no chamado “setor privado” mas em organizações econômicas que tenham extirpado de suas entranhas o DNA da busca de lucro como objetivo final, e atuem como o que vem sendo chamado de “empresa social”).

Muitas de nossas atuais frustrações comprovam a necessidade da participação da sociedade civil nos processos de mudança, como ator político (sabendo escolher quem ela elege, pressionando, reivindicando, resistindo, criando novas saídas para os problemas, ajudando, controlando). Por melhores que sejam as intenções de uns tantos governos e partidos, e ainda que algum governo consiga se libertar das forças econômicas dominantes, governos e partidos sozinhos não mudarão nada, em sociedades em que a sociedade civil seja passiva e tenha sua consciência moldada pelos valores e lógica da globalização neoliberal.

Por outro lado, tais “mudanças” correm um menor risco de esboroarem se a sociedade inteira assumir conscientemente todas as suas dimensões e aspectos, vivendo uma autêntica e profunda revolução cultural. Indo mais longe nesse aspecto, elas incluem até “mudanças” nos comportamentos pessoais (como os que hoje se multiplicam no enfrentamento dos problemas ecológicos), rumo a modos de pensar e de viver inspirados em valores diferentes dos que prevalecem hoje.

A contribuição do FSM, nesse conjunto[8], é a de “facilitar” a atuação política da sociedade civil, para a realização do objetivo geral de “mudança do mundo”, criando, ainda segundo sua Carta de Principios, um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de ideias, a for­mulação de propostas, a troca livre de experiências e a ar­ticula­ção para ações eficazes, de entidades e movimentos da sociedade ci­vil.

Objetivos mais específicos podem então ser definidos para o processo do FSM, relacionados com os tipos de contribuição que procura dar.

Nota 8: O chamado “altermundialismo” poderia, melhor do que o processo do FSM, unir todos os atores dos processos de mudança. Existindo anteriormente ao FSM, ele ganhou possivelmente seu atual nome (deixando de ser somente antimundialista) por força do “outromundismo” do FSM. E, diferentemente do FSM, é um movimento. Mas ele também não tem, como o FSM, quadros dirigentes ou executivas coordenando ações coletivas, nem funciona com plenárias deliberativas. Ele é mais do que tudo uma postura, uma opção política de luta por outro mundo, tanto de organizações e movimentos como de pessoas, ou (na moda das invenções da internet) uma “nuvem” de elementos extremamente diversificados mas visando um mesmo objetivo. Diferentemente do FSM, no entanto, ele tem a possibilidade de abrigar também partidos e governos, o que pode ser uma vantagem nos processos de mudança. Mas para ele também se coloca a necessidade de escapar dos “aparelhamentos” que a esquerda sabe fazer, ou de tomadas de posição de lideranças que comecem a falar em seu nome, levando-o a se subdividir e a se enfraquecer.

Objetivos específicos do processo do FSM

O primeiro objetivo especifico do FSM foi simplesmente, quando lançado, o de fazer ecoar pelo mundo afora a afirmação de que “um outro mundo é possível”, reunindo num determinado lugar do planeta o máximo possível de organizações, movimentos sociais e pessoas que já estão empenhadas na construção desse “outro mundo”. Pretendíamos portanto mostrar que havia muita gente no mundo antepondo-se ao “ pensamento único” de Davos, e provando que há alternativas para o mundo fora da lógica do “mercado”.

Para mim o processo do FSM tem ainda muito a caminhar porque estamos ainda longe de conseguir que chegue a todos os rincões do planeta essa mensagem de esperança. Nós mesmos já dizemos que esse “outro mundo” é não somente possível como absolutamente necessário e urgente. Mas não conseguimos que todos os cidadãos e cidadãs nem de nossos próprios países acreditem que “outro mundo é possível”, menos ainda que ele seja necessário e urgente. E muito menos conseguimos que todos os que já constroem o “outro mundo”, pelo planeta afora, vejam o FSM (e seus encontros mundiais, regionais, nacionais, locais) como um lugar que é “deles”, onde podem se encontrar com pessoas e organizações engajadas na mesma luta, para neles aprender e ensinar, descobrir convergências, lançar novas lutas.

Um segundo objetivo especifico (proposto igualmente nos inícios do FSM), foi o de contribuir para aumentar, na luta pelo “outro mundo”, a consistência da atuação política da sociedade civil, que é preciso despertar ainda muito mais para a mobilização e ajudar a que se articule.

Os sistemas de decisão política estão atualmente sequestrados pelas altas esferas do poder político e econômico e pela representação. É preciso avançar rumo a uma participação mais direta de toda a sociedade. Mas isto implica na compreensão, pelos governos conquistados, do que é uma atuação autônoma da sociedade civil. Assim como exige que os partidos aceitem que não se trata da sociedade civil competir com eles na luta pelo poder, mas de permitir que ela cumpra autonomamente o papel que só ela pode cumprir.

Por outro lado, para que a sociedade civil possa cumprir seu papel com real força política, ela tem que superar a fragmentação que lhe é própria – pelos diferentes tipos de diversidade que comporta, e que tem que manter (lembrando-nos da riqueza da imprescindível biodiversidade da natureza e da distribuição de funções no próprio corpo humano). Isto não deverá portanto ser obtido pela sua homogeneização e estruturação hierárquica, e sim construindo um tipo de união diferente da “unidade” (que se costuma buscar na ação política a que estamos acostumados): formando cada vez mais alianças em que se respeite a autonomia de cada movimento e organização social (ao nível local, nacional, regional e planetário).

Isto é, também para realizar esse segundo objetivo temos uma caminhada ainda longa à nossa frente. E só esta união (e este tipo de união), dará à sociedade civil a força para que, junto com governos e partidos, possa construir alternativas às crises do sistema capitalista dominante, suas guerras e seus diferentes assassinatos em massa, assim como impedir o literal “afogamento” ecológico a que esse sistema está levando rapidamente o mundo. Ora, este outro tipo de união só será possível dentro de outra cultura política, o que nos remete ao terceiro objetivo do FSM.

Esse terceiro objetivo do FSM, de construção de uma nova cultura política, é ainda mais profundo e exigente que os dois anteriores. Ele talvez tenha sido somente intuído quando o FSM foi lançado. Dentro do próprio processo do FSM - menos ainda dentro das organizações e movimentos que dele participam – não foram inteiramente assimiladas e assumidas, ou simplesmente aceitas, certas opções expressas em sua Carta de Princípios ou dela decorrentes, relativas á cultura política: a não-diretividade e a auto-gestão, o respeito à diversidade (até no ritmo da caminhada), a substituição da competição pela cooperação, a horizontalidade nas relações, a rede como forma organizativa mais democrática e que talvez seja possível somente na sociedade civil. Algumas dessas opções são muitas vezes engolidas, na prática do dia a dia, pela lógica do mundo velho que queremos superar. E é ainda mais difícil seguir efetivamente o principio gandhiano, a que já me referi, de que precisamos viver dentro de nós mesmos a mudança que queremos que aconteça no mundo.

Essa nova cultura política exige uma confiança recíproca – e uma enorme ajuda mútua -  que revira nossas entranhas. Os poucos encontros mundiais em que procuramos vivê-la e aprendê-la, proporcionados pelo processo do FSM, não são obviamente suficientes para a profunda “re-educação” exigida para a construção de um mundo efetivamente novo, dentro de outro dominado há mais de quinhentos anos pelo capitalismo.

Na verdade o processo do FSM já contribuiu para que surgissem, nos seus “espaços”, muitas novas redes que lutam por “outro mundo”, articulando organizações e movimentos sociais. Seria longo e desnecessário citá-los, como os que agora conectam, de diferentes formas, trabalhadores rurais, trabalhadores urbanos, sindicatos, indígenas, mulheres, cientistas, juízes, teólogos da libertação, ambientalistas, povos sem estado, nações ocupadas, defensores da água e outros bens comuns, comunicadores alternativos, movimentos de moradia, etc. etc. E ainda há muita coisa a fazer[9].

Mas na perspectiva do muito a caminhar o CI pode muito bem ajudar, em minha opinião através de suas Comissões, como por exemplo apoiando os “facilitadores” de encontros para que melhorem sempre mais a metodologia de criação e de organização de seus “espaços de encontro”, trazendo a eles a experiência de encontros anteriores em seus diversos níveis.

Os sujeitos da ação transformadora

Mas em tudo isto o FSM não é senão um instrumento. Os sujeitos da ação transformadora, rumo à realização do objetivo final de superação do sistema capitalista globalizado, são as organizações e movimentos sociais, inseridos no conjunto de atores políticos que lutam pelo “outro mundo possível”.

Isto aparece de forma incisiva e imediata em vários princípios da Carta do FSM. De um lado fica bem claro que todo o processo se direciona para a ação mas, de outro, que o sujeito da ação não é o Fórum Social Mundial enquanto tal nem muito menos seu CI. Assim:  

(item 1) O Fórum Social Mundial é um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de idéias, a for­mulação de propostas, a troca livre de experiências e a ar­ticula­ção para ações eficazes, de entidades e movimentos da sociedade ci­vil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pe­lo capital e por qualquer forma de imperialismo, e estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária orientada a uma relação fecunda entre os seres humanos e destes com a Terra.

(item7) Deve ser, no entanto, assegurada, a entidades ou conjuntos de en­tidades que participem dos encontros do Fórum, a liberdade de deliberar, durante os mesmos, sobre declarações e ações que de­ci­dam desenvolver, isoladamente ou de forma articulada com ou­tros participantes.

(item 8) O Fórum Social Mundial é um espaço plural e diversificado, não-con­fessional, não-governamental e não-partidário, que articula de forma descentralizada, em rede, entidades e movimentos enga­ja­­dos em ações concretas, do nível local ao internacional, pela cons­trução de um outro mundo.

(item 14) O Fórum Social Mundial é um processo que estimula as entidades e movimentos que dele participam a situar suas ações, do ní­­­vel local ao nacional e buscando uma participação ativa nas ins­­­tâncias internacionais, como questões de cidadania planetária,(...)

Um exemplo bem claro do que isto significa, na prática, foi dado pela grande manifestação de fevereiro de 2003 pela paz e contra a guerra e a invasão do Iraque, uma ação vigorosa que todos gostaríamos de repetir. Se bem rememorarmos o que foi então vivido, a proposta dessa manifestação foi apresentada em uma reunião do CI em Florença, em 2002 – e foi aliás ensaiada na marcha de encerramento dessa reunião. Na verdade essa mobilização já estava em curso, por iniciativa principalmente de movimentos sociais italianos, como ficou demonstrado pela grande dimensão que tomou essa marcha. O que se pedia era que o CI encampasse a manifestação lançando, enquanto CI, uma convocatória mundial. Na sua reunião de Dakar no ano anterior o CI tinha decidido que não deveria tomar posições políticas enquanto tal, para que o FSM não se transformasse de espaço em movimento. Depois de muita discussão, o consenso foi de que as organizações e movimentos que eram portadores da proposta é que deveriam fazer convocatórias, com o apoio das organizações membros dos CI, todos  mobilizando suas redes para realizar essa manifestação mundial.

A mesma proposta - de que o CI encampasse essa mobilização enquanto CI - foi levada à sua reunião de Fevereiro de 2003 em Porto Alegre, após o FSM daquele ano. Novamente o consenso foi de que as organizações e movimentos sociais deveriam continuar o trabalho que vinham fazendo, sem que o CI se posicionasse enquanto CI, cabendo a seus membros apoiar a iniciativa. A esta altura as organizações e movimentos sociais que estavam articulados em torno dela eram bem mais numerosos e já estavam espalhados por todo o mundo – dado o acolhimento que ela vinha recebendo, pela sua clara necessidade e oportunidade, diante da crescente pressão pró-guerra dos EEUU. E quando a mobilização no final de fevereiro daquele ano levou às ruas em todo o mundo mais de 15 milhões de pessoas - a maior da história da humanidade, dizem muitos  - ficou claro que elas tinham resultado da ação de organizações e movimentos de todo o mundo, alem de partidos, sem necessidade de que viesse do alto alguma palavra de ordem (no caso, do CI, que estaria na prática falando enquanto FSM, transformado – ou pretendendo se transformar - em cúpula dos movimentos sociais de todo o mundo...). 

O problema que se coloca, portanto, quanto à ação transformadora propriamente dita, não é propriamente para o processo do FSM, nem muito menos para o CI. A questão é a da capacidade dos movimentos e organizações sociais para definir suas próprias ações.

Neste ponto do raciocínio voltamos à utilidade do processo do FSM, que cria espaços em que organizações e movimentos sociais do mundo todo podem livremente refletir e debater sobre o curso das coisas, sobre as rachaduras e a brechas que vão se abrindo no sistema dominante, sobre as melhores estratégias para nelas incidir efetivamente, sobre os pontos focais estratégicos em torno dos quais muitos possam se juntar em determinados momentos (como aconteceu em 2003, frente ao risco da guerra e da invasão do Iraque), sobre o nível de tomada de consciência, pelos diferentes setores da sociedade, dos diferentes tipos de dominação a que estão submetidos.

Já é bem mais consensual, hoje, que tal reflexão e debate não deverão definir uma única ação ou um tipo e nível único de ação – como nossa Carta de Princípios explicita ao se opor á declarações finais únicas dos FSM - mas sim identificar tudo que pode ser feito, na multiplicidade e diversidade das atuações e setores de luta das organizações e movimentos sociais. 

Nosso problema então, enquanto “facilitadores” do processo FSM, teria que ser o de como realizar da melhor forma possível os objetivos específicos do processo FSM, apoiados nas Comissões do CI (atuais e outras que se criem), para que essas lutas sejam identificadas e propostas e as organizações e movimentos sociais realizem efetivamente o que decidiram fazer, ao voltarem ao seu cotidiano depois dos encontros do processo FSM.

Tudo isto para que o futuro do FSM o torne cada vez mais realmente capaz de contribuir para mudar o mundo.

13/08/2012

Nota 9: E muito mais redes e movimentos podem ainda se formar, como eu mesmo ardentemente espero, por exemplo, que já no FSM de 2013 possa se consolidar uma grande rede mundial de combate ao uso da energia atômica para a produção de energia elétrica, ligada às redes que já existem combatendo o armamento nuclear