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last modified April 17, 2013 by facilitfsm

Futuro do FSM: carta ao Conselho Internacional sobre o debate em andamento

 

Estimadas/os companheiras/os,

 

É com muita surpresa que nós, movimentos sociais brasileiros que nos articulamos na Coordenação de Movimentos Sociais (CMS) do Brasil, recebemos as propostas que circularam sobre o futuro do FSM.

 

Somos movimentos que, no processo do FSM, nos reunimos em torno da Assembléia de Movimentos Sociais, com objetivos regionais e nacionais específicos, mas com o objetivo comum de lutar contra o capitalismo – em sua fase neoliberal, imperialista e militar (de guerra global e permanente), contra o racismo e contra o patriarcado.  

 

Passados 13 anos do primeiro evento do FSM, vemos que o capitalismo continua com sua roupagem neoliberal, aprofundada por políticas de austeridade, que retiram direitos e ampliam a margem de lucro dos grupos econômicos internacionais. Testemunhamos a interferência do sistema financeiro sobre o sistema político através da corrupção e do esvaziamento da política com vasta colaboração dos grandes meios de comunicação.

 

Frente a esse contexto, propostas que impliquem em refutar a política, os partidos, a luta política e ideológica significam para nós render-se ao sistema financeiro e à mídia global. Uma democracia precisa de regras de peso e contrapeso, portanto regular o sistema financeiro significa fortalecer o sistema político, com mais democracia, igualdade de condições e distribuição de renda ampliando a participação. E participação significa ampliar e aprofundar as organizações sociais e a mobilização. Nossa experiência na América Latina tem apontado que o acúmulo da luta social com a luta institucional resulta em espaços de governos que, aliadas à mobilização nas ruas, podem levar a mudanças.

 

Não adotamos uma postura conservadora em defesa do atual modelo organizativo do FSM, entretanto não entendemos que as propostas apresentadas melhorem o FSM ou respondam aos desafios da conjuntura. Os problemas que identificamos não são de ordem estrutural ou organizacional e sim de ordem política. Os temas que o FSM deve tratar precisam dialogar com a conjuntura política internacional, com a agenda de trabalho das entidades do Conselho Internacional, do Grupo de Enlace e das comissões.

 

O debate central do fórum deve ser uma leitura da conjuntura política, que contribua no desenvolvimento de estratégias de ação e luta comuns para derrotar o neocolonialismo que as grandes potências querem impor com suas invasões à África e intervenções em outras regiões do mundo. É derrotar as medidas de austeridade e de ataque aos direitos dos trabalhadores na Europa, que afetam com ainda mais peso as mulheres, é lutar contra o avanço de forças e posições ultraconservadoras. É nos solidarizarmos com a luta dos latino-americanos pelo aprofundamento das transformações sociais que vivem estes países. Enfim, a questão central é fazer com que o fórum dialogue com a realidade e com as lutas concretas que estão em curso. 

 

Entendemos que a agenda do FSM não deve ser a agenda de um setor do FSM e sim a agenda que a análise de conjuntura e o debate estratégico aponta como a mais adequada aos princípios do FSM. O que está em jogo é o futuro da luta social e sua amplitude internacional. Depois de anos de acúmulo de debate e reflexão no espaço do CI,  entendemos que as propostas para o futuro do FSM – especialmente  a que propõe desmantelar o CI - rompem com o pacto fundador do FSM, expresso em sua Carta de Princípios.

 

Tal proposta pretende alijar do processo do FSM os atores sociais que mais mobilizam e contribuem para com a história do FSM, que são os movimentos sociais e as forças de esquerda. Reafirmamos nosso compromisso com a Carta de Princípios, que caracteriza o FSM como um espaço comum a todos que querem construir um outro mundo possível, sem neoliberalismo.  

 

Os movimentos sociais possuem um papel central na vitalidade do processo do FSM. A prática de desqualificar os movimentos sociais organizados, de denominá-los de ultrapassados dada sua forma de organização, é um discurso que não interessa a quem se propõe a fazer a luta, é um discurso elitista que desvia a atenção das questões centrais.

 

O fórum deve ser aberto a todos que se disponha a somar esforços na construção de um outro mundo, sejam estes redes sociais, ONG´s, movimentos espontâneos, sindicatos e movimentos sociais.  Querer nos dividir é fazer o jogo do nosso inimigo comum, os agentes do capital. A unidade desta diversidade em ação, em luta é a força do FSM.

 

Propostas em relação ao futuro do FSM devem considerar o acúmulo histórico de debate sobre o tema, feito no âmbito do CI, de suas comissões e do Grupo de Enlace, e não apenas os debates realizados em 2012. Não vemos que um debate tão delicado como este sobre o futuro do FSM possa ser feito à distância, em curto prazo, e sem considerar a voz  e a experiência dos movimentos sociais, frequentemente invisibilizadas por certos setores que têm tempo quase exclusivo para dedicar a este processo.

 

Esperamos aprofundar este debate na Tunísia e nas reuniões do CI subsequentes.

 

Em solidariedade e luta,

 

CMS - Coordenação dos Movimentos Sociais – Brasil:

 

CUT – Central Única dos Trabalhadores

MMM – Marcha Mundial das Mulheres

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

UBM – União Brasileira de Mulheres, filiada à FDIM – Federação Democrática Internacional de Mulheres

Unegro – União de Negros e Negras pela Igualdade

CTB – Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

UNE – União Nacional dos Estudantes

UJS – União da Juventude Socialista

Conam – Confederação Nacional das Associações de Moradores

Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz

 

 

São Paulo, março de 2013